São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2004

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"É vandalismo mesmo", diz grafiteiro

DA REPORTAGEM LOCAL

"Isso é tudo sujeira. Se fosse algo artístico, tudo bem. Mas é só nome de gangue. Avacalha a cidade e denegriu meu estabelecimento", desabafa Rui Fernandes, 44, proprietário de um café que foi alvo de pichadores.
A expressão urbana mais marginalizada que há ganha condição de vandalismo entre vítimas dos rabiscos de spray, cidadãos e até no meio dos próprios pichadores. "É vandalismo mesmo. Deixa a cidade feia mesmo", decreta Negão, 25, pichador e grafiteiro.
Só neste ano, a prefeitura gastou R$ 1 milhão na limpeza de viadutos, pontes e passarelas. Segundo estimativas da Coordenadoria da Juventude da prefeitura, existem 5.000 pichadores em São Paulo, com idades que vão de 15 a 30 anos. Segundo pichadores, a tribo soma mais de 10 mil pessoas, entre meninos e meninas, da periferia e da classe média.
Para o secretário das Subprefeituras de São Paulo, Carlos Zaratini, a ação dos pichadores é "extremamente prejudicial". Segundo ele, há três grandes problemas hoje na cidade: a pichação, o entulho espalhado e o roubo de cabos e fios. "A pichação é o que estamos conseguindo reduzir mais rapidamente."
Para Alexandre Youssef, da Coordenadoria da Juventude, há dois caminhos de combate à pichação: "Investir na arte urbana e no grafite e apagar insistentemente locais pichados".
Além de intensificar a poluição visual da cidade, o impacto maior das pichações de São Paulo é no bolso dos proprietários de imóveis atingidos. Um imóvel pichado perde cerca de 10% de seu valor, estimam analistas.
Segundo Luiz Fernando de Queiroz, vice-presidente da Associação dos Condomínios Garantidos do Brasil, a pichação causa um prejuízo de R$ 8 bilhões para o mercado de imóveis da cidade. "Em Curitiba, uma iniciativa simples tem dado bons resultados ", conta ele. "São os zeladores de vizinhança, que limpam pichações todos os dias e frustram os pichadores com ações imediatas."
Em São Paulo, pichadores sinalizam que a medida pode ter sucesso. "Por que ninguém picha nos Jardins? Porque não dura nada. No dia seguinte, já era", diz DJ, 21, da gangue "Cripta". (FM)

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