São Paulo, sábado, 3 de outubro de 1998

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Comerciante afirma que o comportamento dos sequestradores mudou e ele achou que seria assassinado
'Pensei que não fosse sair vivo', diz Loyola

Rosane Marinho/Folha Imagem
O comerciante Ignácio de Loyola Damásio, resgatado anteontem pela polícia, recebe um beijo da mãe, Vera Loyola


SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

Mais um dia em poder dos sequestradores poderia ter resultado na morte do comerciante carioca Ignácio de Loyola Damásio, filho da empresária Vera Loyola, na opinião do próprio sequestrado.
Damásio, 30, disse ter ficado com a impressão de que seria morto ontem pelos integrantes da quadrilha que o sequestrara no sábado passado.
O comerciante foi libertado por policiais da DAS (Delegacia Anti-Sequestro) da Polícia Civil na noite de anteontem. Ele estava em uma casa em Realengo, bairro na zona oeste do Rio.
Em entrevista ontem à tarde, 5 kg mais magro em relação ao dia em que foi capturado, Damásio disse que o comportamento dos sequestradores mudou a partir da manhã de anteontem.
"Eles começaram a ficar com medo. Pensei que talvez eu não conseguisse sair (vivo). Acho que alguma desgraça iria acontecer se a DAS não tivesse chegado."
Apesar do sequestro, o comerciante disse que não passará a andar com seguranças particulares. Afirmou, também, que não planeja sair do Rio.
Damásio contou não ter visto os policiais enfrentarem três sequestradores que estavam no cativeiro. Baleados, os sequestradores morreram no hospital Carlos Chagas. Ele disse só ter escutado os tiros.
Havia, de acordo com a vítima, cerca de dez pessoas no cativeiro, até mesmo mulheres e crianças, das quais disse ter ouvido as vozes. Segundo Damásio, todos estavam encapuzados.
O comerciante foi sequestrado na oficina da família em Campo Grande (zona oeste). Ele foi colocado no porta-malas de um carro, que teria rodado cerca de 15 minutos. O comerciante disse que o carro parou em um matagal. A seguir, ele foi colocado no porta-malas de um outro carro.
O segundo carro circulou pela cidade, de acordo com ele, por cerca de uma hora, até chegar ao cativeiro. Como os sequestradores lhe deram um rádio portátil, Damásio disse que, ao sintonizar as rádios clandestinas da região, conseguiu saber onde estava. "Tinha certeza de que era em Realengo."
Durante os seis dias em que permaneceu sequestrado -acorrentado pelas pernas em um quarto-, Damásio comeu pão e iogurte e bebeu água.
Damásio afirmou não ter sido agredido nem ameaçado de morte.
"Nunca falaram que iam me matar. A ameaça era a de que eu poderia ficar ali por muito tempo." Para a vítima, os integrantes da quadrilha eram profissionais experientes em sequestros.



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