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Cortiços e favelas abrigam 25% dos moradores de SP
Lalo de Almeida/Folha Imagem
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Família em quarto de cortiço da al. Nothmann, em Campos Elíseos, onde vivem mais de 150 famílias |
da Reportagem Local
O desempregado Aílton José da
Silva, 31, natural de Timbaúba
(PE), chegou a São Paulo há três
anos. Analfabeto e sem qualificação profissional, nunca conseguiu
emprego fixo e vive de bicos.
Sem opções, mora em um cortiço invadido, onde divide um
quarto de menos de nove metros
quadrados com a mulher e seis filhos. Há apenas uma cama. O cômodo ao lado serve de banheiro e
cozinha. O vaso sanitário e a pia
de cozinha dividem o mesmo encanamento. É normal um dos filhos do casal utilizar o banheiro
enquanto a mãe cozinha.
"Aqui é ruim, mas é melhor que
no sertão. A comida que a gente
acha no lixo é melhor do que a
que os ricos da minha cidade comem", desabafa Aílton.
A situação de Aílton não é uma
exceção na cidade. Um quarto da
população de São Paulo vive em
cortiços e favelas com estrutura
tão precária quanto o local onde
Aílton mora, em um antigo cinema na Mooca (região central).
O dado é fornecido pela Fipe
(Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas) da Universidade de
São Paulo. A fundação está atualizando este ano a última pesquisa
sobre o assunto, feita em 1991. Pelos dados iniciais, o pesquisador
Alair Molina, um dos coordenadores do levantamento, acredita
que a porcentagem será mantida.
Baseado nos dados da pesquisa
e na opinião de especialistas em
habitação, é possível dizer que os
cortiços têm infra-estrutura melhor que as favelas, como energia
elétrica, água e esgoto.
Mas a ocupação populacional é
maior nos cortiços, o que, aliado
ao fato de a maioria ser invadido
por várias famílias, torna a condição de vida nesses locais mais insalubre. Principalmente nos grandes cortiços, resultado de invasão
em prédios antigos, onde é comum viver mais de 50 famílias.
O levantamento de 1991 mostrou que havia na cidade de São
Paulo 23.688 cortiços, que abrigavam 595.110 pessoas, o que correspondia a 6% da população da
cidade à época.
Já a população favelada era
composta de 1.901.892 pessoas. O
número representa 19% da população paulistana de então.
O levantamento da Fipe mostra
um perfil semelhante entre os
moradores de favela e de cortiço.
Nos dois casos, a maioria é constituída de homens, casados e vindos de Estados do Nordeste, principalmente a Bahia.
A promiscuidade, a falta de privacidade e o grande número de
famílias desconhecidas dividindo
a mesma casa gera uma situação
de tensão nos cortiços que muitas
vezes leva à violência.
A opinião é de Helene Afanasieffi, coordenadora de cortiços
da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano), agência estadual paulistana
para a habitação popular.
"O crime se abriga em situações
clandestinas e não resolvidas, como é o caso dos cortiços e favelas", opina Helene. "Morar em
um lugar sem privacidade, sempre com risco de vida, torna a situação explosiva. Uma briga pode
começar porque uma criança
chutou uma bola na porta de um
vizinho de cortiço."
Helene coordena um programa
do governo do Estado de São Paulo, em convênio com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que pretende investir
US$ 233 milhões em quatro anos
em recuperação de cortiços na
Grande São Paulo.
O alvo inicial do programa habitacional são dois cortiços invadidos, um na Mooca, onde vive a
família de Aílton, e um em Campos Elíseos (ambos na região central da cidade), que reúnem juntos mais de 250 famílias.
A própria coordenadora do
Movimento dos Moradores de
Cortiço e Sem-Teto de São Paulo,
Verônica Kroll, admite que a situação nos dois locais é "insustentável". "Esses dois cortiços são os
piores lugares de São Paulo. Há
muita gente morando num espaço muito pequeno e acaba sendo
comum cenas de violência", afirma Verônica Kroll.
Aílton comprova na pele a teoria: "Aqui é o inferno. Mas quem
não tem dinheiro, não tem escolha, tem que viver no inferno".
(OTÁVIO CABRAL)
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