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"Mateus mantém contato com a realidade, diz psiquiatra"
DA REPORTAGEM LOCAL
Cássio Pitta, o médico de Mateus da Costa Meira, é mestre em
psiquiatria e tem formação em
psicanálise. Veja os principais trechos da entrevista que concedeu à
Folha na última quarta-feira, em
seu consultório.
Folha - Mateus é um psicótico?
Cássio Pitta - No presente momento, não. Ele teve um quadro
psicótico em determinado momento, induzido por uma determinada circunstância, mas, no
presente momento, não. Eu diria
que ele teve um quadro psicótico
agudo, mas, do dia 5 de novembro de 1999 até hoje, ele não apresentou uma sintomatologia de
natureza psicótica.
Folha - O que é uma sintomatologia psicótica?
Pitta - Predominantemente, alucinação, que é uma alteração da
senso-percepção, alteração do
pensamento, como delírios, e desorganização da forma do pensamento.
Folha - Ele mantém o contato com
a realidade?
Pitta - Ele mantém o contato
com a realidade, embora ele seja
uma pessoa com certo distanciamento afetivo.
Folha - Ele não deve ser considerado um esquizofrênico?
Pitta - Do meu ponto de vista,
não.
Folha - Ele é portador de um
transtorno mental?
Pitta - Do meu ponto de vista,
sim.
Folha - Qual a diferença entre um
transtorno mental e uma psicose?
Pitta - A psicose está incluída no
transtorno mental. Transtorno
mental é uma alteração psíquica.
Existem várias categorias de
transtornos mentais. Há transtornos do humor, de ansiedade, alimentares, de somatização. É um
nome amplo para qualquer alteração do funcionamento mental.
Eu diria que o Mateus apresenta
uma alteração no desenvolvimento de sua personalidade.
Folha - Alteração em que sentido?
Pitta - Um prejuízo no desenvolvimento da sua personalidade.
Folha - Essa alteração levou a que
tipo de transtorno?
Pitta - A ações mais impulsivas e
agressivas. Não vou declarar o
diagnóstico por uma questão de
ética médica.
Folha - Esses traços de impulsividade e agressividade explicam o
crime do dia 3 de novembro de 99?
Pitta - Isso, associado ao que ingeriu, de certa maneira explicam.
Folha - A ingestão pode ter induzido a um surto psicótico.
Pitta - Pode.
Folha - Nesse surto psicótico, a
pessoa sabe o que está fazendo?
Pitta - Às vezes, pode ter um conhecimento parcial; às vezes, total; e, às vezes, não. A gente não
pode afirmar qual era o grau de
conhecimento do Mateus no momento do ato.
Folha - Quando o sr. decidiu dar
alta a ele da clínica Parque Julieta
em 19 de outubro, o sr. não temia
que pudesse ocorrer algo grave?
Pitta - Não. Havia um temor de
que ele pudesse voltar a ter um
comportamento agressivo, induzido por algum tipo de substância
psicoativa. Então a minha alta foi
condicionada à presença do pai
no apartamento dele, acompanhando de perto o tratamento.
Foi combinado que, se houvesse
alguma intercorrência, o pai entraria em contato comigo o mais
rápido possível. O pai tinha se
prontificado a ficar em São Paulo
para acompanhar.
Folha - O sr. não temeu novos episódios de agressão?
Pitta - Ele estava controlado.
Não houve nenhum episódio
agressivo na clínica. Mesmo na
internação, não houve nenhum
ato violento. Nesse tempo todo eu
nunca vi um ato violento do Mateus. No máximo, um momento
de discreta irritabilidade. Eu sabia
de outros momentos de impulsividade, mas nada próximo ao que
aconteceu.
Folha - Numa cidade como São
Paulo, onde as drogas circulam
muito, o sr. não ficou preocupado?
Pitta - Ninguém que faz abuso
de droga vai ficar condenado a
uma internação o resto da vida. A
internação é uma parte do tratamento. Hoje, no setor de saúde
mental, nós entendemos que as
internações devem ser as mais
breves possíveis. Só para remeter
o quadro agudo.
Folha - O sr. se sente responsável
pelas mortes?
Pitta - Eu não posso me sentir
responsável porque o meu atendimento foi cuidadoso. Dei a alta na
presença do pai. Acompanhei de
perto. O que estava ao alcance do
profissional foi feito. Essas situações são imprevisíveis. Como é
que eu poderia imaginar que isso
fosse ocorrer? Claro que essa é
uma situação que abala qualquer
profissional. Foi um impacto e
uma dor muito grande, mas não
posso me sentir responsabilizado.
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