São Paulo, domingo, 03 de novembro de 2002

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EDUCAÇÃO

Na Uerj, primeira instituição a adotar sistema de cotas, vestibulandos beneficiados têm notas próximas às dos demais

No Rio, grupos têm desempenho similar

DA SUCURSAL DO RIO

A Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) realiza o primeiro vestibular neste ano após ser a primeira grande instituição pública do Rio a adotar o regime de cotas para negros e egressos do ensino público, no ano passado.
O exame que definirá os negros e alunos da rede pública aptos a entrar na Uerj ainda está em andamento. Em sua primeira fase, na qual são avaliados conhecimentos gerais, o resultado dos estudantes que se encaixam no perfil das cotas foi muito parecido com o dos demais candidatos.
No primeiro exame, foram eliminados 44% dos 19 mil alunos inscritos no teste feito para os beneficiados pelas cotas. Entre os demais estudantes, a porcentagem de eliminados foi um pouco menor -37%.
No outro extremo, os estudantes com mais de 70% de aproveitamento foram 2,3% dos que podem entrar pelas cotas e 3,8% dos demais candidatos.
"Até agora, o que é possível afirmar é que a diferença entre os dois grupos não foi tão grande no primeiro exame. No entanto, ainda não sabemos como ela ficará em cada curso, depois que os estudantes fizerem a segunda fase do vestibular", afirmou Sônia Wanderley, assessora da coordenação do vestibular da Uerj.

Ânimo
Frei Davi Santos, principal liderança da ONG Educafro, que defende as cotas, enxerga os números de modo mais animado.
"Os resultados mostram que uma boa parte dos alunos da rede pública quer vencer. Considerando que os demais candidatos são de escolas de qualidade, como as particulares, o resultado foi muito bom. Ele mostra que há um número suficiente de alunos da rede pública aptos a entrar na universidade", disse.
Para decidir quem é negro ou pardo, o decreto que regulamentou as cotas definiu que o próprio estudante informaria a cor da pele. Para evitar que estudantes brancos se aproveitem dessa brecha, foi instituída a possibilidade de o Estado processar por falsidade ideológica quem mentir.
A ONG Educafro também pretende fiscalizar a primeira seleção realizada pela Uerj e processar por falsidade ideológica quem tentar burlar o sistema de cotas, fazendo-se passar por egresso de escola pública ou negro.

Na marra
No caso do Rio, as cotas nas universidades estaduais só foram implementadas porque o então governador Anthony Garotinho (PSB) enviou, em 2001, um projeto de lei à Assembléia Legislativa, sem debater antes com a universidade. A reitoria da Uerj era contrária ao sistema de cotas.
O projeto original previa a reserva de 50% das vagas para estudantes da rede pública. As cotas para negros foram incluídas depois, no projeto aprovado ainda no ano passado e que reserva 40% das vagas.
No Congresso Nacional há um projeto em tramitação, de autoria do senador José Sarney (PMDB), que prevê cota de 20% para estudantes negros e egressos da escola pública.


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