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CLIMA
Temporais mais fortes têm entre suas causas potenciais o efeito indireto do El Niño e a influência das ilhas de calor urbanas
Chuva em novembro foi o dobro da média
DA REPORTAGEM LOCAL
O verão ainda nem começou,
mas as tempestades de fim de tarde, típicas da estação, já foram,
em novembro, responsáveis por
uma chuva acumulada 128% acima da média histórica do mês.
Segundo o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências da
Prefeitura de São Paulo), choveu
um total de 320 mm até o dia 30,
quando a precipitação deveria ter
ficado em torno dos 140 mm (cada milímetro equivale a um litro
de água por metro quadrado).
A maior intensidade dos temporais -mais precisamente chamados de chuvas convectivas-
tem entre suas causas potenciais o
efeito indireto do El Niño (aquecimento natural das águas do oceano Pacífico que causa chuvas fortes no Sul e seca no Nordeste) e a
influência das ilhas de calor urbanas, afirmam especialistas.
A força das águas e dos ventos
que geralmente acompanham as
chuvas de verão vem sendo sentida nas inundações, falta de energia e trânsito. E, por causa da rapidez com que se formam, essas
precipitações são de difícil localização pelos radares meteorológicos. "Sabemos que vão ocorrer,
mas é difícil prever onde. Muitas
vezes, quando o radar detecta
uma formação, já está, na verdade, chovendo", diz Marcio Custódio, meteorologista do CGE.
Em razão de sua situação geográfica e condições climáticas,
São Paulo sofre tradicionalmente
com as chuvas convectivas porque apresenta as duas condições
naturais que favorecem sua ocorrência: calor e umidade, diz Marcelo Seluchi, do Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais).
Durante o dia, o ar quente da
superfície do solo sobe, carregando as gotículas de água trazidas
do litoral pela brisa marítima.
Quando atinge uma certa altura,
encontra temperaturas mais baixas, condensando-se rapidamente em nuvens, que se precipitam
numa chuva forte, geralmente rápida e localizada, que pode produzir ventos locais e muitos raios.
O El Niño, que deverá ter seu pico durante o verão, impede que as
frentes frias se locomovam do Sul
para o Nordeste do país, passando, no caminho, por cima de São
Paulo. Segundo Custódio, isso faz
com que o Estado fique sob influência de uma massa de ar tropical (quente e úmido). A temperatura mais alta facilita a formação de chuvas convectivas.
O mesmo aumento excessivo
do calor é causado pela ação do
homem. Supressão de vegetação,
pavimentação, verticalização e
crescimento da frota de veículos
formam as ilhas de calor e fazem
com que a temperatura no centro
da capital chegue a ser até 10ºC a
mais que em áreas periféricas.
"A urbanização nefasta torna a
cidade um grande modificador
do clima", diz Magda Lombardo,
professora de geografia da Unesp
de Rio Claro e autora do livro
"Ilhas de Calor nas Metrópoles".
A falta de vegetação prejudica a
reflexão do calor; a impermeabilização dos solos favorece a evaporação; os edifícios interferem na
circulação dos ventos, e os carros
aumentam o aquecimento da atmosfera. A saída, diz Lombardo, é
instituir um índice verde urbano,
que determine a percentagem de
vegetação que cada cidade deve
ter em relação à sua área construída.
(MARIANA VIVEIROS)
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