São Paulo, terça-feira, 03 de dezembro de 2002

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CLIMA

Temporais mais fortes têm entre suas causas potenciais o efeito indireto do El Niño e a influência das ilhas de calor urbanas

Chuva em novembro foi o dobro da média

DA REPORTAGEM LOCAL

O verão ainda nem começou, mas as tempestades de fim de tarde, típicas da estação, já foram, em novembro, responsáveis por uma chuva acumulada 128% acima da média histórica do mês.
Segundo o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências da Prefeitura de São Paulo), choveu um total de 320 mm até o dia 30, quando a precipitação deveria ter ficado em torno dos 140 mm (cada milímetro equivale a um litro de água por metro quadrado).
A maior intensidade dos temporais -mais precisamente chamados de chuvas convectivas- tem entre suas causas potenciais o efeito indireto do El Niño (aquecimento natural das águas do oceano Pacífico que causa chuvas fortes no Sul e seca no Nordeste) e a influência das ilhas de calor urbanas, afirmam especialistas.
A força das águas e dos ventos que geralmente acompanham as chuvas de verão vem sendo sentida nas inundações, falta de energia e trânsito. E, por causa da rapidez com que se formam, essas precipitações são de difícil localização pelos radares meteorológicos. "Sabemos que vão ocorrer, mas é difícil prever onde. Muitas vezes, quando o radar detecta uma formação, já está, na verdade, chovendo", diz Marcio Custódio, meteorologista do CGE.
Em razão de sua situação geográfica e condições climáticas, São Paulo sofre tradicionalmente com as chuvas convectivas porque apresenta as duas condições naturais que favorecem sua ocorrência: calor e umidade, diz Marcelo Seluchi, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Durante o dia, o ar quente da superfície do solo sobe, carregando as gotículas de água trazidas do litoral pela brisa marítima. Quando atinge uma certa altura, encontra temperaturas mais baixas, condensando-se rapidamente em nuvens, que se precipitam numa chuva forte, geralmente rápida e localizada, que pode produzir ventos locais e muitos raios.
O El Niño, que deverá ter seu pico durante o verão, impede que as frentes frias se locomovam do Sul para o Nordeste do país, passando, no caminho, por cima de São Paulo. Segundo Custódio, isso faz com que o Estado fique sob influência de uma massa de ar tropical (quente e úmido). A temperatura mais alta facilita a formação de chuvas convectivas.
O mesmo aumento excessivo do calor é causado pela ação do homem. Supressão de vegetação, pavimentação, verticalização e crescimento da frota de veículos formam as ilhas de calor e fazem com que a temperatura no centro da capital chegue a ser até 10ºC a mais que em áreas periféricas.
"A urbanização nefasta torna a cidade um grande modificador do clima", diz Magda Lombardo, professora de geografia da Unesp de Rio Claro e autora do livro "Ilhas de Calor nas Metrópoles".
A falta de vegetação prejudica a reflexão do calor; a impermeabilização dos solos favorece a evaporação; os edifícios interferem na circulação dos ventos, e os carros aumentam o aquecimento da atmosfera. A saída, diz Lombardo, é instituir um índice verde urbano, que determine a percentagem de vegetação que cada cidade deve ter em relação à sua área construída. (MARIANA VIVEIROS)


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