São Paulo, quinta, 3 de dezembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE
Grávida foi obrigada a tomar medicamento, chegou a ser aconselhada a abortar em hospital e tentou o suicídio
Mulher processa SP por laudo errado de HIV

EDMILSON ZANETTI
em São José do Rio Preto

A empregada doméstica Lucineia Batista Mateus, 27, prepara ação de indenização contra o Estado de São Paulo por danos morais, por ter sido tratada por quase um ano como portadora do vírus HIV, sem nunca ter sido soropositiva.
Ela acusa o Instituto Adolfo Lutz de São José do Rio Preto (451 km a noroeste de SP) de ter emitido atestado errado, informando que ela era portadora do vírus da Aids.
A advogada de Lucineia, Marisa Bittar, 40, disse que espera resultado de exame psicológico para definir a extensão dos danos e apresentar os cálculos da indenização.
A história começou durante o pré-natal de seu segundo filho, em setembro do ano passado, em uma Unidade Básica de Saúde. Exame feito pelo Instituto Adolfo Lutz informava que ela tinha Aids.
Lucineia passou, então, a ser tratada no Serviço Ambulatorial Especializado, que cuida de 600 soropositivos ou doentes na cidade.
Ela diz que, por quase um ano, sofreu os efeitos colaterais do AZT, remédio contra o HIV, perdeu amigos, o emprego, tentou abortar, quase abandonou o primeiro filho e chegou a tentar cometer suicídio. "Eu não passava a mão na barriga, porque sentia raiva do bebê. Nem fiz enxoval, porque ele ia morrer mesmo."
A mulher disse que foi discriminada por amigos, familiares e até no hospital onde teve o bebê. Segundo ela, uma auxiliar de enfermagem sugeriu que ela abortasse. O hospital confirmou o episódio (leia texto abaixo).
Lucas Wendel Mateus nasceu prematuro de sete meses, em 13 de abril, com 2,7 kg e 46 cm. O bebê também tomou AZT, até que, aos três meses, fosse confirmado que não tinha o vírus, segundo disse a mãe. Lucineia diz que nunca amamentou o filho no peito, com medo de transmitir o vírus.
No final de setembro deste ano, o infectologista Nelson Lopes descobriu que Lucineia não tinha Aids, ao pedir novo exame para verificar sua quantidade de vírus.
A confirmação é do mesmo Instituto Adolfo Lutz, com data de 21 de setembro. Para se certificar, a advogada Marisa Bittar pediu novo exame de um laboratório particular, que confirmou o erro de informação no primeiro exame.

Efeitos
Estudos dos últimos dez anos indicam que o uso do AZT não implica riscos materno-fetais. Segundo o infectologista Guido Levy, diretor do Hospital Emílio Ribas, muitas pessoas se queixam, porém, de dor de cabeça e enjôos.
Do ponto de vista da toxicidade, o AZT pode causar diminuição dos glóbulos brancos e dos glóbulos vermelhos no sangue. As possíveis consequências são anemia, tontura e taquicardia.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.