São Paulo, quinta, 3 de dezembro de 1998

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ADOÇÃO
Mães que dizem ter perdido filhos arbitrariamente protestam
TJ decide na próxima semana se afasta juiz da infância de Jundiaí

LILIAN CHRISTOFOLETTI
da Reportagem Local

O presidente do TJ (Tribunal de Justiça), Dirceu de Mello, afirmou ontem que o tribunal vai decidir na próxima semana se o juiz Luiz Beethoven Giffoni Ferreira será afastado da Vara da Infância e Juventude de Jundiaí (SP).
O pronunciamento foi feito por causa do protesto de 15 mães que afirmam terem perdido a guarda dos filhos arbitrariamente. Elas permaneceram ontem durante quase sete horas em frente ao tribunal, com faixas e cartazes com fotos das crianças.
Segundo Mello, o órgão especial do TJ vai analisar as suspeitas sobre o procedimento de Beethoven na destituição do pátrio poder e na adoção por estrangeiros. A reportagem da Folha procurou o juiz, mas ele não quis se manifestar sobre o assunto.
"O fato de o juiz ser afastado não significa que as crianças serão devolvidas. O afastamento é uma decisão administrativa", afirma.
De acordo com Mello, cada mãe terá que entrar com um processo para recuperar a guarda do filho. Se ficar entendido que houve irregularidade no processo de adoção por estrangeiros, a Justiça brasileira terá de entrar em acordo com a Justiça dos países para onde as crianças foram mandadas.
A decisão do juiz revoltou as mães, que saíram chorando da audiência. "Ele não escutou a nossa história. O juiz não compreende a dor de uma mãe ao ver seu filho ser arrancado de seus braços e levado para outro país", afirma Vanessa Custódio Pereira, 18. Ela diz que seu filho, Sheyviston, foi retirado do berço quando estava com três meses. "Na época, eu tinha 14 anos, e eles falavam que eu não teria condições de criar o bebê."
O advogado de 55 mães de Jundiaí, Marco Antonio Colagrossi, pediu ao presidente do TJ que suspendesse todas as adoções em Jundiaí por estrangeiros, já que Beethoven continua respondendo como o responsável pelas adoções.
"Depois das denúncias, ele diz que já enviou mais de dez crianças para o exterior. Isso coloca as mães em pânico", afirma.
Segundo Mello, a adoção por estrangeiros está prevista em lei e o TJ não tem poder para proibir as transferências de crianças para o exterior. "O processo entre os países é delicado. Há casos de mães que estão esperando há dois anos a volta dos filhos."



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