São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2004

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A conta-gotas, favela é urbanizada

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando chegou, há 13 anos, ao Jardim Santa Lúcia, o baiano Genário Nascimento da Cruz, 32, encontrou um cenário pouco animador: a favela -resultado da ocupação de um terreno da prefeitura na região de mananciais da represa Guarapiranga (extremo sul de São Paulo)- tinha vielas de terra batida, casas sem água encanada e um córrego que, além de ser esgoto a céu aberto, transbordava nas chuvas de verão, juntando ratos e causando doenças.
Inconformado com a situação, Cruz começou a pensar em como poderia resolvê-la, mas só em 2000 fundou a associação de moradores do bairro, que preside. A entidade procurou a prefeitura, na gestão Celso Pitta (1997-2000), e pediu a urbanização da área.
As obras começaram em 2000, no Programa Guarapiranga, que previa a recuperação de favelas nas bordas do reservatório e foi financiado em parte pelo Banco Mundial. A partir daí, porém, seguiram a conta-gotas: foram interrompidas em 2001, retomadas no ano seguinte, voltaram a parar em 2003 e devem ser finalizadas neste ano, segundo Cruz. Tudo ao sabor da existência ou não de recursos para a sua conclusão.
A questão financeira é sempre um problema, admite o secretário da Habitação de São Paulo, Paulo Teixeira. Ele estima que a gestão Marta Suplicy vai gastar uma média de R$ 50 milhões por ano no Bairro Legal, programa de urbanização e regularização de favelas.
A verba poderá praticamente dobrar neste ano se chegarem recursos esperados de convênios com a CDHU, o BID e da venda de outorga onerosa (direito de construir acima do permitido).
Cruz não reclama do atraso nas obras. "Só de terem pavimentado as ruas, canalizado o córrego Botucatu, de não termos mais as casas invadidas por água e ratos, de termos coleta de lixo e um endereço de verdade, onde o carteiro pode deixar a correspondência, já nos sentimos mais cidadãos."
A menina dos olhos de Cruz é o telecentro com 20 computadores instalado na sede da associação do bairro. "Agora as crianças têm aula de informática e não ficam mais na rua o tempo todo."
Antes da urbanização, as cerca de 300 famílias que moram no Jardim Santa Lúcia viviam com medo de ser despejadas, diz Cruz. "Ninguém melhorava a casa porque achava que podia chegar um dia e ter sido despejado." Agora, afirma, tudo mudou.



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