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Morador só levou short e chinelos
DA SUCURSAL DO RIO
Um par de chinelos e um short
foi tudo o que o comandante das
atividades especializadas do Corpo de Bombeiros, Marcos Silva,
52, levou do apartamento 607 do
edifício Palace 2, onde morava
com a mulher e dois filhos.
Além do valor do imóvel -cerca de US$ 130 mil-, já quitado,
Silva perdeu um carro, móveis e
roupas. Sua mulher, Alice de Moraes Silva, teve uma crise nervosa
depois do desabamento, saiu andando pela rua e foi encontrada
três dias depois, num hospital, em
estado de choque.
O coronel ficou no prédio até
poucos minutos antes da queda.
Segundo ele, a filha Monique o
acordou de madrugada dizendo
que o prédio estava caindo. Ele foi
até o segundo subsolo e viu que
um dos pilares do prédio estava
inchado, prestes a explodir.
Saiu batendo de porta em porta,
acordando as pessoas e mandando que evacuassem o prédio. "Se
não morreram 80, cem pessoas, o
[Sérgio] Naya me deve essa. Arrisquei minha vida e ele nunca me
agradeceu por isso", disse Silva.
Ele diz não ter mais esperanças de
receber indenização: "Comprei
uma mercadoria podre. Jamais
esperei que a Justiça demorasse
tanto para definir se um prédio
está podre". Silva e a família compraram outro apartamento. Após
o desabamento, eles moraram
quatro meses num quarto do hotel Atlântico Sul, no Recreio (zona
oeste), pago por Naya para hospedar os desabrigados.
Quase seis anos depois, 19 famílias ainda moram no hotel. Uma
delas é a do representante comercial Rômulo Sobreira. Ele disse
que sua família não se recuperou
do trauma. "Nosso padrão de vida caiu muito. Perdemos um
pouco do referencial. Já aceitamos receber valor inferior ao que
valia o imóvel, mas não recebemos a indenização."
Um dos moradores do hotel é
Oswaldo Benevides. O filho dele,
Leonel, então com 18 anos, foi um
dos mortos na tragédia. Segundo
de vizinhos, o rapaz subiu ao
apartamento, sem o conhecimento da família, quando o prédio já
estava interditado.
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