São Paulo, quarta-feira, 04 de fevereiro de 2004

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Morador só levou short e chinelos

DA SUCURSAL DO RIO

Um par de chinelos e um short foi tudo o que o comandante das atividades especializadas do Corpo de Bombeiros, Marcos Silva, 52, levou do apartamento 607 do edifício Palace 2, onde morava com a mulher e dois filhos.
Além do valor do imóvel -cerca de US$ 130 mil-, já quitado, Silva perdeu um carro, móveis e roupas. Sua mulher, Alice de Moraes Silva, teve uma crise nervosa depois do desabamento, saiu andando pela rua e foi encontrada três dias depois, num hospital, em estado de choque.
O coronel ficou no prédio até poucos minutos antes da queda. Segundo ele, a filha Monique o acordou de madrugada dizendo que o prédio estava caindo. Ele foi até o segundo subsolo e viu que um dos pilares do prédio estava inchado, prestes a explodir.
Saiu batendo de porta em porta, acordando as pessoas e mandando que evacuassem o prédio. "Se não morreram 80, cem pessoas, o [Sérgio] Naya me deve essa. Arrisquei minha vida e ele nunca me agradeceu por isso", disse Silva. Ele diz não ter mais esperanças de receber indenização: "Comprei uma mercadoria podre. Jamais esperei que a Justiça demorasse tanto para definir se um prédio está podre". Silva e a família compraram outro apartamento. Após o desabamento, eles moraram quatro meses num quarto do hotel Atlântico Sul, no Recreio (zona oeste), pago por Naya para hospedar os desabrigados.
Quase seis anos depois, 19 famílias ainda moram no hotel. Uma delas é a do representante comercial Rômulo Sobreira. Ele disse que sua família não se recuperou do trauma. "Nosso padrão de vida caiu muito. Perdemos um pouco do referencial. Já aceitamos receber valor inferior ao que valia o imóvel, mas não recebemos a indenização."
Um dos moradores do hotel é Oswaldo Benevides. O filho dele, Leonel, então com 18 anos, foi um dos mortos na tragédia. Segundo de vizinhos, o rapaz subiu ao apartamento, sem o conhecimento da família, quando o prédio já estava interditado.


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