São Paulo, domingo, 04 de março de 2001

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"Queria ser professor", diz detento

DA REPORTAGEM LOCAL

Desempregado, 31 anos, branco, solteiro, pai de duas meninas, M.P. decidiu pela segunda vez recorrer ao crime para garantir o próprio sustento e o da família: Há cinco meses ele tentou roubar uma estação de trem na periferia da zona leste da capital.
"Todo mundo tem de achar um meio de conseguir alguma coisa", diz ele. M. sobrevivia de bicos. "Faço qualquer coisa, mas até isso está difícil de encontrar", diz.
O fato é que os planos de M. deram duplamente errado: a polícia chegou em tempo de evitar o assalto e ele ainda sofreu uma fratura exposta na perna.
Resultado: está há quase cinco meses em uma maca do hospital da Penitenciária do Estado, aguardando assistência médica e uma audiência judicial. Ele diz que ainda não foi condenado nem pelo primeiro assalto.
"Os processos são lentos", diz ele. Até cometer a segunda e última tentativa de assalto, M. estava em liberdade.
M. destoa um pouco das estatísticas que indicam a baixa escolaridade dos presos porque completou o ensino médio. Falando um português correto e praticamente sem gírias, uma raridade na cadeia, ele diz que gostaria de ter cursado uma faculdade.
"Queria ser professor, mas nunca tive a menor condição financeira nem de pensar em fazer faculdade", diz.
M. passa os dias rezando. "Só Deus vai me ajudar a sair daqui inteiro. Isso aqui é um inferno."





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