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O PODER DO CRIME
Comércio de maconha, crack e cocaína chega a render R$ 2.000 por dia, afirma detento do Carandiru
Tráfico de drogas alimenta corrupção em presídios
ALESSANDRO SILVA
SERGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O tráfico de drogas é o "motor"
da corrupção dentro das prisões
de São Paulo, onde o PCC (Primeiro Comando da Capital) tem
sua base de operações.
É como se a cadeia tivesse se tornado um morro do Rio de Janeiro, dominado por traficantes, que
lidam com armas, fazem ""justiça"
por conta e corrompem.
A Folha mapeou, a partir de
conversas com presos, familiares
e funcionários, como esse comércio funciona no complexo do Carandiru, zona norte de São Paulo,
o maior do país, onde vivem cerca
de 9.500 condenados.
Lá, um traficante afirmou que
chega a faturar cerca de R$ 2.000
por dia vendendo drogas como
maconha, crack e cocaína, pelo
dobro do preço em relação ao que
é cobrado do lado de fora.
"Aqui o maluco pode ganhar
muito mais. Primeiro, porque a
droga custa mais caro, e, segundo,
porque aqui todo mundo já conhece o barato. Na cadeia, a fissura é muito maior", afirma S., 24.
Falando por celular, S. se apresentou como chefe do tráfico em
um dos pavilhões da Penitenciária do Estado (que integra o complexo do Carandiru) e como
membro do PCC. O traficante
afirma entregar à facção parte do
que arrecada.
O esquema para transportar a
droga para dentro do presídio depende do pagamento de funcionários, de visitas e até de estranhos contratados nas ruas.
Os funcionários cobram, segundo presos, cerca de 10% do valor
que será arrecadado com a droga.
Durante a semana, a polícia
prendeu um rapaz de 15 anos que
receberia R$ 100 para jogar, por
cima do muro, para dentro do pavilhão oito da Casa de Detenção,
uma sacola com maconha (20 saquinhos) e carregadores de bateria de celular.
S. disse à Folha que, até a megarrebelião do dia 18, seis gerentes dividiam a Penitenciária do Estado
por áreas de atuação, que correspondem aos pavilhões
Hoje, a unidade tem cerca de
1.700 presidiários -800 a menos
do que há duas semanas, por causa da série de transferências para
desarticular a liderança do PCC.
Quando falou com a Folha, S.,
que cumpre pena por tráfico, estava ""chateado" porque seria
transferido com os demais membros do PCC. Ele disse que deixaria na unidade cerca de R$ 10 mil
em drogas estocadas.
Pelas regras da cadeia, seu substituto ficaria responsável por vender o produto e depositar o dinheiro na conta da sua mulher.
A maior apreensão de drogas
feita este ano nos presídios de São
Paulo levou à prisão o agente carcerário José Carlos Dias, 39, e uma
parente de um dos presos da Casa
de Detenção, a costureira Silvana
Rita dos Santos, 30. Ela havia sido
revistada por ele, mas acabou barrada, em uma nova inspeção surpresa, levando oito quilos de maconha e dois celulares.
"O sistema induz à corrupção
porque o Estado paga um salário
miserável", diz Nilson de Oliveira,
presidente do sindicato dos funcionários do sistema prisional de
São Paulo (Sifuspesp).
Para o sindicalista, os funcionários não podem ser os únicos alvos das suspeitas. "Em uma prisão como a Detenção, é um entra-e-sai de caminhões de abastecimento, de organizações não-governamentais, advogados e outros", afirma Oliveira.
Morte
Quem não faz parte do esquema
corre até risco de morte. Segundo
Julia, 30, mulher de detento do
complexo, o preso que não consome drogas ou celulares acaba sendo visto como "laranjão". "São os
primeiros a morrer."
No ano passado, houve 26 assassinatos no Carandiru. No último dia 16, uma revista na Casa de
Detenção apreendeu um quilo de
maconha e 300 pedras de crack,
além de 793 facas improvisadas.
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