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O PODER DO CRIME
Segundo detentos e seus familiares, negócios chegam a ser intermediados por agentes e comerciantes
De celular a cela, tudo tem preço no presídio
DA REPORTAGEM LOCAL
Tudo é pago na Casa de Detenção, dizem os detentos ouvidos
pela Folha, por celular, e seus familiares. "Até traição", afirma
Nalva, 38 (os nomes são fictícios),
referindo-se ao fato de o preso receber visita íntima de outra mulher. Para subir à cela acompanhado por alguém cujo nome não
está na relação da carceragem, paga-se de R$ 5 a R$ 10.
O rol de produtos e serviços inclui desde uma ligação telefônica
(R$ 10) até uma cela no "Morumbi" -andar dos pavilhões onde
estão as celas individuais. Cada
uma custa cerca de R$ 1.500.
A transação mais comum é
transportar um telefone celular
para dentro do complexo. Custa
R$ 150. O esquema inclui alguns
funcionários e um bar próximo
ao presídio: o parente deixa o aparelho no bar com o nome do detento e o dinheiro. Um agente
passa para buscá-lo depois.
Na Penitenciária do Estado, o
negócio é feito em um estabelecimento na frente do presídio. Ao
contrário da Casa de Detenção, a
transação não inclui a participação de ninguém do comércio. O
local serve apenas de referência.
O transporte de dinheiro custa
aproximadamente 10% do valor
manipulado. Mas nem tudo é negociado na Casa de Detenção em
espécie: valem também maços de
cigarro -a "moeda" oficial de todo o presídio.
No Carandiru, um maço do paraguaio TE vale R$ 0,50; dos nacionais Hollywood e Marlboro
-os preferidos-, R$ 1. Dessa
forma, a "traição" pode ser paga
com cinco maços de Marlboro.
Esses cigarros, que são estocados nas celas, têm de virar "dinheiro vivo" para dar lucro. Nalva
é dona de um bar na zona norte
de São Paulo e vende os maços recolhidos pelo marido, preso por
tráfico. A mulher diz que ele não
negocia drogas, mas faz "rolos"
com roupa, comida e aparelhos
eletroeletrônicos.
Segundo familiares, o esquema
para transformar cigarro em dinheiro inclui também camelôs
que ficam ao redor das prisões.
Nalva afirma que alguns funcionários da Detenção chegam a ir a
seu bar receber dinheiro. "Como
não devo nada a ninguém, não tenho medo. Agora, quem deve eles
pressionam mesmo. É pior que
traficante", conta.
O marido de Cleide, 28, está preso no Carandiru há três anos. Segundo ela, depois de rebeliões, os
negócios esquentam nos presídios. Isso porque a maior parte do
patrimônio do detento (TV, roupas etc.) é destruído. "Agora, está
todo mundo com fome. Mas por
comida, "irmão" não cobra."
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