São Paulo, domingo, 04 de março de 2007

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Autor da pesquisa diz que estudo é "lupa' do que foi a violência em todo Brasil

DA REPORTAGEM LOCAL

Autor do "Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros", o sociólogo argentino Julio Jacobo Waiselfisz, 68, admite que seu estudo, uma "lupa" do que foi a violência nos 5.560 municípios brasileiros existentes entre 2002 e 2004, tem pequenas distorções, mas que sua maior preocupação era chamar a atenção para a canalização de políticas públicas de segurança.
Waiselfisz acredita que a ordenação de 10% (560) das 5.560 cidades do Brasil em uma lista como aquelas em que mais se matou, proporcionalmente à população dividida por um índice médio de 100 mil habitantes, é um instrumento para que a Segurança Pública nos Estados seja tratada de maneira focalizada, principalmente nas áreas mais violentas apontadas por seu mapeamento.

Certidão de óbito
O sociólogo esclarece também que toda a sua base de dados ignorou registros policiais das mortes violentas e priorizou dados obtidos nas certidões de óbitos.
"Priorizamos a questão da agressão intencional, que pode ser latrocínio [roubo seguido de morte], por exemplo, tem que ter intenção de matar [para figurar na pesquisa dele]", diz o sociólogo, que trabalha com parâmetros internacionais, propagados pela OMS (Organização Mundial de Saúde).
Somente com a tipificação da violência feita com os dados obtidos na área da Saúde é possível obter uma comparação entre o Brasil e os demais países.
"A polícia de São Paulo trabalha com os dados dos boletins de ocorrência, assim como começa a fazer agora o Ministério da Justiça. Cada Estado do Brasil tem um método diferente de registrar os dados. Se quero trabalhar com as mortes de jovens de 15 a 24 anos, por exemplo, não tenho esses dados no Ministério da Justiça", continua.

Termômetro
Waiselfisz, que reconhece a eficiência do sistema de classificação da violência de São Paulo, o Infocrim (base de dados com informações criminais mantida pela Secretaria de Segurança), classifica o seu estudo recém divulgado como um "termômetro" da violência.
"O meu mapa da violência é um termômetro, não é um diagnóstico. Você não vai encontrar na minha parte porque está acontecendo isso [a violência]. Eu botei um termômetro e mostrei onde tem febre. Pela tarja do termômetro, não sei se é um simples resfriado ou se um problema estrutural do coração, não sei. Mostra apenas a linha do problema", afirma.

"Incidente esporádico"
Para explicar porque Borá (481 km de SP) foi a 6ª cidade do Brasil onde mais se matou com arma de fogo, entre 2002 e 2004, Waiselfisz cita os casos dos "incidentes esporádicos". No ranking geral das 556 mais violentas, mesmo com apenas 838 moradores, a cidade ficou na posição n.º 259.
"Houve municípios com taxas extremamente elevadas, tendo registrado somente um incidente nos três anos considerados. São municípios cuja base populacional muito estreita tem enorme impacto nos índices. Apesar disso, a lei brasileira não diz a partir de quantas mortes uma cidade precisa tomar medidas para combater o problema", finaliza. (AC)


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