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Walter Leser, 92, foi o responsável pela introdução dos testes no vestibular
DA REPORTAGEM LOCAL
O médico Walter Leser foi o
introdutor dos testes de múltipla escolha no país, além de ser
um dos fundadores da Fundação Carlos Chagas e de ter sido
secretário de Estado da Saúde
de São Paulo (1967-70). Leser
também teve influência na decisão de aumentar o número de
questões da Fuvest em 1996.
A entrevista foi concedida em
seu apartamento em São Paulo.
Aos 92 anos e com uma memória de dar inveja a estudantes de
18, ele contou, entre uma baforada e outra em seu cachimbo, a
experiência de mudar os processos seletivos do país.
(AN)
Folha - Por que o sr. resolveu
em 1946 substituir as provas tradicionais de seus alunos na EPM
(hoje Unifesp) pelas de teste?
Walter Leser - Eu acho que
prova escrita é simplesmente
impossível de corrigir. Isso faz
parte da literatura. Nos EUA,
chegaram a dar uma prova para
cem professores corrigirem-na.
As notas variaram de dois a oito. Você pode dizer, "vai ver que
foi uma prova de filosofia". Não,
era uma prova de geometria.
Com os testes não tem isso.
Folha - Por que o sr. mudou o
vestibular da faculdade, que era
o mesmo havia mais de 30 anos?
Leser - Em 1952, fui chamado
para uma banca de vestibular.
Era exatamente igual à que eu
tinha feito [em 1928". Quando
acabou, houve uma reunião e eu
disse: "O vestibular, como está,
conseguirá o que parece ser seu
objetivo, que é impedir a entrada de qualquer sujeito inteligente na escola". Então, eu disse
que poderia desenvolver uma
prova no ano seguinte. Eles [os
organizadores do vestibular da
EPM" faziam o vestibular que
queriam e eu faria uma prova de
inteligência. Eles aceitaram. Esse teste de inteligência mostrou
que, dos 75 que haviam passado, pelo menos 18 não tinham
nível de inteligência para cursar
medicina. Depois disso, fui incumbido de fazer a prova.
Folha - Na época, o MEC não autorizou o fim da prova oral?
Leser - Certa vez, eu fui ao ministério para discutir esse assunto e me disseram que a prova oral teria de continuar a ser
aplicada. Mas o aluno respondia às questões de múltipla escolha e, na hora de fazer a prova
oral, já se sabia a nota do teste.
Folha - O senhor se considera o
pai do moderno vestibular?
Leser - Não. Deus me livre. Eu
sou pai do Paulo [Leser, seu filho, professor da Unifesp".
Folha - Mas o senhor foi o responsável no país pela introdução
dos testes no vestibular.
Leser - Fui, mas isso foi há tanto tempo que não tem mais importância.
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