São Paulo, quinta-feira, 04 de abril de 2002

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Walter Leser, 92, foi o responsável pela introdução dos testes no vestibular

DA REPORTAGEM LOCAL

O médico Walter Leser foi o introdutor dos testes de múltipla escolha no país, além de ser um dos fundadores da Fundação Carlos Chagas e de ter sido secretário de Estado da Saúde de São Paulo (1967-70). Leser também teve influência na decisão de aumentar o número de questões da Fuvest em 1996.
A entrevista foi concedida em seu apartamento em São Paulo. Aos 92 anos e com uma memória de dar inveja a estudantes de 18, ele contou, entre uma baforada e outra em seu cachimbo, a experiência de mudar os processos seletivos do país. (AN)

Folha - Por que o sr. resolveu em 1946 substituir as provas tradicionais de seus alunos na EPM (hoje Unifesp) pelas de teste?
Walter Leser -
Eu acho que prova escrita é simplesmente impossível de corrigir. Isso faz parte da literatura. Nos EUA, chegaram a dar uma prova para cem professores corrigirem-na. As notas variaram de dois a oito. Você pode dizer, "vai ver que foi uma prova de filosofia". Não, era uma prova de geometria. Com os testes não tem isso.

Folha - Por que o sr. mudou o vestibular da faculdade, que era o mesmo havia mais de 30 anos?
Leser -
Em 1952, fui chamado para uma banca de vestibular. Era exatamente igual à que eu tinha feito [em 1928". Quando acabou, houve uma reunião e eu disse: "O vestibular, como está, conseguirá o que parece ser seu objetivo, que é impedir a entrada de qualquer sujeito inteligente na escola". Então, eu disse que poderia desenvolver uma prova no ano seguinte. Eles [os organizadores do vestibular da EPM" faziam o vestibular que queriam e eu faria uma prova de inteligência. Eles aceitaram. Esse teste de inteligência mostrou que, dos 75 que haviam passado, pelo menos 18 não tinham nível de inteligência para cursar medicina. Depois disso, fui incumbido de fazer a prova.

Folha - Na época, o MEC não autorizou o fim da prova oral?
Leser -
Certa vez, eu fui ao ministério para discutir esse assunto e me disseram que a prova oral teria de continuar a ser aplicada. Mas o aluno respondia às questões de múltipla escolha e, na hora de fazer a prova oral, já se sabia a nota do teste.

Folha - O senhor se considera o pai do moderno vestibular?
Leser -
Não. Deus me livre. Eu sou pai do Paulo [Leser, seu filho, professor da Unifesp".

Folha - Mas o senhor foi o responsável no país pela introdução dos testes no vestibular.
Leser -
Fui, mas isso foi há tanto tempo que não tem mais importância.



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