|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MASSACRE NA BAIXADA
Polícia do Rio mata mais do que a dos EUA
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A Polícia do Rio matou mais
pessoas em confrontos do que todas as 21 mil corporações que
atuam nos Estados Unidos, segundo o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania.
Em 2004, 983 pessoas morrem
no Estado do Rio sob o fogo de
policiais. Em 2003, o número foi
ainda maior -1.195. Em 2002, os
mortos somaram 900. Nos EUA, a
média de mortes foi de 341 por
ano no período de 1998 a 2002.
"Os números são excessivamente elevados e tiveram um
crescimento assustador nos últimos anos. Mostram que a polícia
do Rio tem licença para matar",
diz Leonarda Musumeci, pesquisadora do centro, que é ligado à
Universidade Cândido Mendes.
Em 1999, 289 pessoas morreram
em confronto -foi a menor marca entre 1997 e 2004. Houve crescimento de 240% de 1999 a 2004.
Os dados foram coletados na
Secretaria de Segurança Pública
do Estado. Os próprios policiais é
que informam que as mortes foram resultado de confrontos.
Musumeci diz que, em alguns
casos, os laudos do Instituto Médico Legal revelam que as vítimas
foram atingidas de costas ou à
queima-roupa, o que indica supostas execuções sumárias.
Ela pondera, no entanto, que
houve aumento nas ações de violência do tráfico, o que também
resultou num grande número de
mortes de policiais em confronto.
Foram 50 em 2004 e 48 em 2003.
"Mas a maioria dos policias morre fora de serviço, em folga ou por
vingança [de criminosos] ou
prestando serviços de segurança."
Tal situação, porém, não justifica as mortes: "A polícia tem de
agir dentro da lei. Só pode atirar
em sua defesa. E não é o que indicam muitos laudos do IML", diz.
O crescimento dos mortos em
confronto, diz, sintetiza o modo
da polícia de atuar. "O comando é
para partir para o confronto e não
investir em ações de inteligência."
Para a pesquisadora, a chacina
na Baixada Fluminense é reflexo
do modelo "equivocado" de segurança pública adotado no Estado.
A polícia do Rio é treinada para
agir de modo violento, e o Estado
não investe no controle externo
nem em inteligência, analisa. "É
violência assumida. É uma polícia
que tem licença para matar."
Sobre a chacina, ela diz que ainda é prematuro fazer avaliação
conclusiva. Afirma, porém, que,
se a participação da polícia se confirmar, é "um retrocesso". "O que
assusta é o retorno de algo que se
achava estar no passado. Mostra
que de Vigário Geral para cá a situação não evoluiu."
Ao analisar a suposta participação de policiais, Musumeci diz
que a ação pode ter sido um ato de
"terrorismo". "Algo para aterrorizar e mostrar a força."
A pesquisadora diz que para solucionar o problema de segurança
pública o Estado tem de "repensar" toda sua atuação na área.
Para começar, diz, é preciso investir em controle externo, reforçar e aparelhar ouvidorias e corregedorias. Também é necessário
mudar o modelo de treinamento,
focando-o em mais "inteligência e
menos brutalidade". Além disso,
diz, a melhoria da remuneração e
o combate à corrupção devem estar mais presentes na agenda do
governo para segurança pública.
Texto Anterior: Governo federal anuncia envio de 400 homens Próximo Texto: Moacyr Scliar: A volta do filho pródigo Índice
|