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Rio descartou muro mais baixo para favelas
Secretaria de Meio Ambiente propôs mureta ecológica de até 60 cm de altura, contra até três metros do muro atual
Para vice-prefeito, polêmica sobre o caso é "inócua'; "fundamental é que se está garantindo que a floresta seja preservada", diz ele
ANDRÉ ZAHAR
DA SUCURSAL DO RIO
A decisão de cercar 11 favelas
cariocas com muros de três metros de altura partiu do governo
do Estado do Rio. Na discussão
com a prefeitura, foi descartada
uma proposta alternativa feita
pela Secretaria Municipal de
Meio Ambiente.
A secretaria propunha muretas de tijolo ecológico (feito
com madeira, garrafas pet e outros materiais) com até 60 cm
de altura. Sobre elas, haveria
um alambrado de 1,60 m pelo
qual se poderia ver a mata
atlântica. Beirando a mureta,
um piso de concreto de 1,40 m
funcionaria como calçada. Mas
o muro hoje em construção
tem 80 cm a mais e é feito de
concreto e vergalhões de ferro.
Os muros, que vão totalizar
11 quilômetros, cercarão 11 favelas da zona sul do Rio, sob
pretexto de impedir o avanço
das construções sob a mata virgem. O projeto está sendo implantado inicialmente no morro Dona Marta, ocupado pela
Polícia Militar desde novembro
do ano passado. A previsão é de
começar em 2010 a cercar favelas dos complexos de Lins, Penha e da Tijuca.
O vice-prefeito Carlos Alberto Muniz, que ontem desempenhava função de prefeito em
exercício, disse à Folha que a
cidade "poderia ganhar mais"
com a "ecobarreira" alternativa, mas que "também não vai
perder" com os paredões. Para
ele, a polêmica é "inócua".
"O fundamental é que se está
urbanizando a comunidade e
garantindo que a floresta seja
preservada sem nenhum tipo
de delírio", disse Muniz, que
também comanda a secretaria
de Meio Ambiente.
Orçado em R$ 40 milhões, o
projeto está sendo executado
pelo Estado por meio da Emop
(Empresa de Obras Públicas).
Os locais -praticamente todas
as favelas da zona sul- foram
decididos de comum acordo
entre o Estado e o município.
"A floresta tem árvores de
dez metros de altura. São visíveis de todos os lados. Não há
perda de interação [com a obra
do muro]", afirma Muniz.
Com licitação marcada para
a próxima terça-feira, a Rocinha receberá a maior parte do
paredão (2,8 km). O presidente
da associação de moradores da
favela, Antônio Ferreira de
Melo, o Shaolin, reclama de falta de debate com a comunidade. "A favela já vive uma vida
sob cerco. Com o muro, passará
a ter um símbolo de preconceito e discriminação", diz.
O prefeito Eduardo Paes, que
idealizou o programa de ecolimites no primeiro governo Cesar Maia (1993-1996), opôs-se
em 2004 à proposta do então
secretário estadual de Meio
Ambiente, Luiz Paulo Conde,
de construir um muro em volta
da Rocinha para proteger a mata e impedir as fugas dos criminosos. "Um muro não impediria bandidos de passar de um
lado para o outro, por mais alto
que fosse", afirmou Paes à época. Ele estava ontem em Londres e não respondeu às perguntas enviadas pela Folha.
"Assustador"
Responsável por projetos de
urbanização em favelas como
Paraisópolis e Jardim Nazaré e
Colina do Oeste, o arquiteto
Hector Vigliecca considera a
construção de muros em volta
das favelas algo "assustador".
"É uma decisão dramática. Numa área informal é preciso fazer definição clara do espaço
público, iluminação, segurança, acessibilidade", afirma.
Desde terça-feira, as assessorias de imprensa do governador
Sérgio Cabral e do vice-governador Luiz Fernando Pezão
afirmam que ambos não irão
comentar o assunto.
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