São Paulo, sábado, 04 de abril de 2009

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Rio descartou muro mais baixo para favelas

Secretaria de Meio Ambiente propôs mureta ecológica de até 60 cm de altura, contra até três metros do muro atual

Para vice-prefeito, polêmica sobre o caso é "inócua'; "fundamental é que se está garantindo que a floresta seja preservada", diz ele


ANDRÉ ZAHAR
DA SUCURSAL DO RIO

A decisão de cercar 11 favelas cariocas com muros de três metros de altura partiu do governo do Estado do Rio. Na discussão com a prefeitura, foi descartada uma proposta alternativa feita pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente.
A secretaria propunha muretas de tijolo ecológico (feito com madeira, garrafas pet e outros materiais) com até 60 cm de altura. Sobre elas, haveria um alambrado de 1,60 m pelo qual se poderia ver a mata atlântica. Beirando a mureta, um piso de concreto de 1,40 m funcionaria como calçada. Mas o muro hoje em construção tem 80 cm a mais e é feito de concreto e vergalhões de ferro.
Os muros, que vão totalizar 11 quilômetros, cercarão 11 favelas da zona sul do Rio, sob pretexto de impedir o avanço das construções sob a mata virgem. O projeto está sendo implantado inicialmente no morro Dona Marta, ocupado pela Polícia Militar desde novembro do ano passado. A previsão é de começar em 2010 a cercar favelas dos complexos de Lins, Penha e da Tijuca.
O vice-prefeito Carlos Alberto Muniz, que ontem desempenhava função de prefeito em exercício, disse à Folha que a cidade "poderia ganhar mais" com a "ecobarreira" alternativa, mas que "também não vai perder" com os paredões. Para ele, a polêmica é "inócua".
"O fundamental é que se está urbanizando a comunidade e garantindo que a floresta seja preservada sem nenhum tipo de delírio", disse Muniz, que também comanda a secretaria de Meio Ambiente.
Orçado em R$ 40 milhões, o projeto está sendo executado pelo Estado por meio da Emop (Empresa de Obras Públicas). Os locais -praticamente todas as favelas da zona sul- foram decididos de comum acordo entre o Estado e o município.
"A floresta tem árvores de dez metros de altura. São visíveis de todos os lados. Não há perda de interação [com a obra do muro]", afirma Muniz.
Com licitação marcada para a próxima terça-feira, a Rocinha receberá a maior parte do paredão (2,8 km). O presidente da associação de moradores da favela, Antônio Ferreira de Melo, o Shaolin, reclama de falta de debate com a comunidade. "A favela já vive uma vida sob cerco. Com o muro, passará a ter um símbolo de preconceito e discriminação", diz.
O prefeito Eduardo Paes, que idealizou o programa de ecolimites no primeiro governo Cesar Maia (1993-1996), opôs-se em 2004 à proposta do então secretário estadual de Meio Ambiente, Luiz Paulo Conde, de construir um muro em volta da Rocinha para proteger a mata e impedir as fugas dos criminosos. "Um muro não impediria bandidos de passar de um lado para o outro, por mais alto que fosse", afirmou Paes à época. Ele estava ontem em Londres e não respondeu às perguntas enviadas pela Folha.

"Assustador"
Responsável por projetos de urbanização em favelas como Paraisópolis e Jardim Nazaré e Colina do Oeste, o arquiteto Hector Vigliecca considera a construção de muros em volta das favelas algo "assustador". "É uma decisão dramática. Numa área informal é preciso fazer definição clara do espaço público, iluminação, segurança, acessibilidade", afirma.
Desde terça-feira, as assessorias de imprensa do governador Sérgio Cabral e do vice-governador Luiz Fernando Pezão afirmam que ambos não irão comentar o assunto.


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