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SISTEMA PRISIONAL
Na guerra pelo poder, grupos criminosos passaram a matar mais nos últimos dois anos em São Paulo
Briga de facções deixa rebelião mais violenta
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
A disputa pelo poder entre facções inimigas nos presídios de
São Paulo, que anteontem resultou na morte de sete detentos, tornou as rebeliões mais violentas no
Estado, que tem o maior número
de condenados do país.
Até ontem, São Paulo registrava
média no ano de um motim a cada 15 dias em penitenciárias e
centros de detenção provisória,
com 3,25 mortes cada -total de
oito rebeliões e 26 mortes.
No ano passado, o Estado enfrentou sete revoltas com saldo de
29 mortes: 4,14 assassinatos por
incidente -número engrossado
pelas 20 vítimas da megarrebelião
liderada pelo PCC e que atingiu 29
prisões ao mesmo tempo.
A Folha contabilizou a megarrebelião de 2000 e a série de motins deste ano, quando o PCC
lembrou um ano da mobilização,
como um único incidente carcerário, como faz a Secretaria da
Administração Penitenciária.
Antes, as mortes eram menos
frequentes e as facções tidas, pelo
governo do Estado, como ""lendas" entre os presidiários.
Em 99, São Paulo teve 16 rebeliões, uma delas com 13 mortes
-a maior quantidade desde os
111 do Carandiru (92)-, mas a
média de assassinatos ficou em
1,6 por incidente prisional, totalizando 26 mortes naquele ano.
No ano seguinte, nem o aumento de revoltas de 16 para 25 influenciou o indicador, fazendo
com que a média ficasse em 0,8
por motim. No total, 25 condenados foram assassinados.
O aparecimento das facções -o
marco é a megarrebelião- mudou as motivações das rebeliões e
o perfil dos mortos, diz o sociólogo Túlio Kahn, do Ilanud (Instituto Latino Americano das Nações
Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente),
que pesquisou 225 motins ocorridos em São Paulo entre 94 e 97.
""Antes, os motivos mais frequentes eram tentativas de fugas
frustradas e reivindicações. Os
mortos eram presos do seguro,
como os estupradores", afirmou.
PCC (Primeiro Comando da
Capital), a maior das facções, CDL
(Comando Democrático pela Liberdade) e CRBC (Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade) têm se enfrentado pelo
controle de unidades e por ampliação de seus ""soldados".
O morto de agora pode ser um
detento informante da direção ou
aliado de outra facção. ""O Estado
tem obrigação de preservar o homem preso, seja ele do PCC ou
não", disse o advogado Luiz Flávio Borges D'Urso, membro do
Conselho Penitenciário Nacional.
Segundo ele, as mortes dessa
guerra entre facções somente serão evitadas quando o governo tiver um serviço de informações
eficiente e puder separar os grupos rivais nas penitenciárias.
""Misturar as facções é trazer pólvora para perto do fogo", disse.
Sem separação
Após a rebelião em Guarulhos,
em que sete presos morreram, parentes de detentos e membros da
comissão de direitos humanos da
OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil) acusaram a direção da unidade de não separar os encarcerados de acordo as facções.
Ontem, a Secretaria da Administração Penitenciária informou
que não falaria sobre os números
apresentados pela Folha.
O governador Geraldo Alckmin
(PSDB) disse ontem, após assinar
convênios para a saúde, que a
orientação é ""separar presos por
facções". ""Às vezes você tem determinadas facções que não são
detectadas. Infelizmente há uma
enorme violência hoje entre os
presos", afirmou ele.
Durante a tarde, o governador
chamou o secretário da Administração Penitenciária do Estado,
Nagashi Furukawa, para uma
reunião no Palácio dos Bandeirantes. O incidente de Guarulhos
foi o tema principal desse encontro que não estava previsto.
Colaborou FABIANE LEITE,
da Reportagem Local
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