São Paulo, sábado, 04 de maio de 2002

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SISTEMA PRISIONAL

Na guerra pelo poder, grupos criminosos passaram a matar mais nos últimos dois anos em São Paulo

Briga de facções deixa rebelião mais violenta

ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

A disputa pelo poder entre facções inimigas nos presídios de São Paulo, que anteontem resultou na morte de sete detentos, tornou as rebeliões mais violentas no Estado, que tem o maior número de condenados do país.
Até ontem, São Paulo registrava média no ano de um motim a cada 15 dias em penitenciárias e centros de detenção provisória, com 3,25 mortes cada -total de oito rebeliões e 26 mortes.
No ano passado, o Estado enfrentou sete revoltas com saldo de 29 mortes: 4,14 assassinatos por incidente -número engrossado pelas 20 vítimas da megarrebelião liderada pelo PCC e que atingiu 29 prisões ao mesmo tempo.
A Folha contabilizou a megarrebelião de 2000 e a série de motins deste ano, quando o PCC lembrou um ano da mobilização, como um único incidente carcerário, como faz a Secretaria da Administração Penitenciária.
Antes, as mortes eram menos frequentes e as facções tidas, pelo governo do Estado, como ""lendas" entre os presidiários.
Em 99, São Paulo teve 16 rebeliões, uma delas com 13 mortes -a maior quantidade desde os 111 do Carandiru (92)-, mas a média de assassinatos ficou em 1,6 por incidente prisional, totalizando 26 mortes naquele ano.
No ano seguinte, nem o aumento de revoltas de 16 para 25 influenciou o indicador, fazendo com que a média ficasse em 0,8 por motim. No total, 25 condenados foram assassinados.
O aparecimento das facções -o marco é a megarrebelião- mudou as motivações das rebeliões e o perfil dos mortos, diz o sociólogo Túlio Kahn, do Ilanud (Instituto Latino Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente), que pesquisou 225 motins ocorridos em São Paulo entre 94 e 97.
""Antes, os motivos mais frequentes eram tentativas de fugas frustradas e reivindicações. Os mortos eram presos do seguro, como os estupradores", afirmou.
PCC (Primeiro Comando da Capital), a maior das facções, CDL (Comando Democrático pela Liberdade) e CRBC (Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade) têm se enfrentado pelo controle de unidades e por ampliação de seus ""soldados".
O morto de agora pode ser um detento informante da direção ou aliado de outra facção. ""O Estado tem obrigação de preservar o homem preso, seja ele do PCC ou não", disse o advogado Luiz Flávio Borges D'Urso, membro do Conselho Penitenciário Nacional.
Segundo ele, as mortes dessa guerra entre facções somente serão evitadas quando o governo tiver um serviço de informações eficiente e puder separar os grupos rivais nas penitenciárias. ""Misturar as facções é trazer pólvora para perto do fogo", disse.

Sem separação
Após a rebelião em Guarulhos, em que sete presos morreram, parentes de detentos e membros da comissão de direitos humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) acusaram a direção da unidade de não separar os encarcerados de acordo as facções.
Ontem, a Secretaria da Administração Penitenciária informou que não falaria sobre os números apresentados pela Folha.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse ontem, após assinar convênios para a saúde, que a orientação é ""separar presos por facções". ""Às vezes você tem determinadas facções que não são detectadas. Infelizmente há uma enorme violência hoje entre os presos", afirmou ele.
Durante a tarde, o governador chamou o secretário da Administração Penitenciária do Estado, Nagashi Furukawa, para uma reunião no Palácio dos Bandeirantes. O incidente de Guarulhos foi o tema principal desse encontro que não estava previsto.


Colaborou FABIANE LEITE, da Reportagem Local

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