São Paulo, sábado, 04 de maio de 2002

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Condenado prefere a cadeia à rua

CLAUDIO LIZA JUNIOR
FREE-LANCE PARA FOLHA CAMPINAS

A vida na cadeia pode não ser tão ruim quanto parece. Foi pensando assim que o desempregado Alexandre Benedito Grossi, 28, foi preso no início da tarde de anteontem tentando escalar a muralha da cadeia de Jundiaí (60 km de São Paulo) para ficar preso.
Grossi disse à polícia que era procurado por roubo e, como não havia sido preso até anteontem, tentou entrar, por conta própria, na cadeia. "A vida aqui fora está muito difícil", declarou Grossi, na ocorrência do caso registrada no 7º Distrito Policial de Jundiaí, à qual a Folha teve acesso.
Na cadeia de Jundiaí, Grossi está dividindo o espaço com outros 244 detentos, que ocupam uma área que daria para 183 pessoas.
O desempregado foi detido por dois PMs depois de cair do muro que tentava escalar. Ele sofreu leves escoriações nas pernas.
Grossi foi levado à delegacia pelos policiais e, segundo o boletim de ocorrência, ficou "extremamente feliz" quando o escrivão comprovou, na ficha criminal do desempregado, que ele tinha um mandado de prisão expedido pela 3ª Vara Criminal de Jundiaí.

Caso inusitado
"Realmente foi um caso inusitado. Normalmente, quando um foragido é detido, nós registramos a ocorrência como captura de pessoa procurada. Não sei se foi o caso, mas esse registro também foi classificado dessa forma", afirmou o delegado do 7º DP, Luís Carlos Branco.
O delegado seccional de Jundiaí, Paulo Bicudo, disse que Grossi era procurado por furto desde 14 de maio de 2001. "Ele [Grossi" também já foi detido por porte de entorpecentes", afirmou.
Segundo Bicudo, Grossi estava alcoolizado quando tentou escalar o muro e entrar na cadeia.
Apesar da vontade de permanecer na cadeia, o desempregado deve ser solto nos próximos dias.
"A pena que foi aplicada a ele era por furto e pode ser cumprida em regime semi-aberto. Já pedimos à Justiça que seja elaborado um contramandado de prisão para que ele seja solto", afirmou o delegado seccional.
Bicudo disse que a Justiça deve dar ao desempregado uma pena alternativa.
Grossi, se não quisesse, não seria preso. Segundo o delegado seccional, depois de condenado à revelia (sem comparecer ao julgamento), ele só seria detido depois de se apresentar a um juiz.
Grossi, no entanto, preferiu o caminho mais curto, pulando o muro da cadeia.



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