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São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2003

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SAÚDE

Equipamento de US$ 1,5 mi pago pelo ministério atende menos da metade da demanda de pacientes da rede pública

SUS compra aparelho, mas não paga exame

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um aparelho de diagnóstico de imagem de US$ 1,5 milhão comprado há quase um ano com recursos do SUS está deixando de atender pacientes da rede pública de saúde porque o próprio governo federal ainda não incluiu o exame na lista de procedimentos pagos pelo sistema.
Entregue ao Incor (Instituto do Coração) há um mês pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o PET (um tipo de aparelho de tomografia) realizou no período 243 exames, 78 deles em pacientes do SUS. Se o exame tivesse sido incluído na tabela do SUS, mais 104 (75% do total) pessoas poderiam ter sido beneficiadas pelo exame.
O aparelho é o único disponível na rede pública de saúde que permite a detecção de doenças com grande precocidade, especialmente o câncer e suas metástases.
No país, há um único outro aparelho (mais sofisticado porque tem acoplado um tomógrafo computadorizado) instalado no Hospital Sírio Libanês, usado apenas para pacientes particulares.
Segundo o diretor-geral do Incor, José Antonio Franchini Ramires, mesmo sem receber pelo exame, o instituto atende pacientes do SUS que estão em tratamento no Incor.
O procedimento tem sido arcado pela Fundação Zerbini, mantenedora do Incor. O exame custa R$ 2.800 para pacientes particulares. No Sírio Libanês, o preço varia de R$ 3.100 a R$ 3.300.
Ramires diz que a não-inclusão do exame na tabela do SUS acontece porque o ministério ainda não sabe quanto vai pagar pelo procedimento. "É preciso muita análise e o estabelecimento de critérios claros para pagar o exame", afirma. Outros 19 hospitais brasileiros estariam interessados na compra do PET, segundo ele.
Segundo o médico David Uip, diretor-executivo do Incor, o exame também não está sendo pago pelos planos de saúde, que estariam esperando a definição do SUS para estabelecer o valor.
Ainda assim, segundo ele, o instituto tem feito o procedimento em pacientes conveniados cobrando apenas o valor do material radioativo utilizado, que custa R$ 750 a dose.
"Não podemos deixar o aparelho parado. Custou muito dinheiro para quebrar por falta de uso", afirma Uip.
Embora possa ser utilizado para detectar disfunções cardíacas e neurológicas, o Incor tem usado o PET essencialmente para examinar pacientes com câncer já diagnosticado. Também é necessário que o encaminhamento seja feito pelo médico.
Uma das vantagens do PET, diz Ramires, é apontar com precisão se o tumor apresenta metástase, informação fundamental para que o médico decida qual o melhor tratamento, cirurgia ou quimioterapia, por exemplo.

Acordo
Outro empecilho para a realização em grande escala de exames pelo PET é a dificuldade de se obter a matéria-prima necessária no procedimento. Diferentemente de outros exames, o tipo de material radioativo (isótopo) usado para exames nesse aparelho é de curta duração: apenas duas horas depois de fabricado.
E, por se tratar de material radioativo, controlado pelo governo federal, o isótopo é fabricado em São Paulo apenas pelo Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), que não tem condições técnicas para atender uma grande demanda de exames por dia. Para o Incor, por exemplo, o fornecimento só acontece às terças e quintas-feiras.
Ipen e Incor já firmaram uma parceria para que o último comece a fabricar e a fornecer o material radioativo de curta duração para outros hospitais, clínicas e laboratórios. Segundo Ramires, o Incor já comprou o equipamento -que custou US$ 2,8 milhões- e começará a fabricar a substância radioativa ainda neste semestre.


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