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SAÚDE
Equipamento de US$ 1,5 mi pago pelo ministério atende menos da metade da demanda de pacientes da rede pública
SUS compra aparelho, mas não paga exame
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um aparelho de diagnóstico de
imagem de US$ 1,5 milhão comprado há quase um ano com recursos do SUS está deixando de
atender pacientes da rede pública
de saúde porque o próprio governo federal ainda não incluiu o
exame na lista de procedimentos
pagos pelo sistema.
Entregue ao Incor (Instituto do
Coração) há um mês pelo governador de São Paulo, Geraldo
Alckmin, o PET (um tipo de aparelho de tomografia) realizou no
período 243 exames, 78 deles em
pacientes do SUS. Se o exame tivesse sido incluído na tabela do
SUS, mais 104 (75% do total) pessoas poderiam ter sido beneficiadas pelo exame.
O aparelho é o único disponível
na rede pública de saúde que permite a detecção de doenças com
grande precocidade, especialmente o câncer e suas metástases.
No país, há um único outro aparelho (mais sofisticado porque
tem acoplado um tomógrafo
computadorizado) instalado no
Hospital Sírio Libanês, usado apenas para pacientes particulares.
Segundo o diretor-geral do Incor, José Antonio Franchini Ramires, mesmo sem receber pelo
exame, o instituto atende pacientes do SUS que estão em tratamento no Incor.
O procedimento tem sido arcado pela Fundação Zerbini, mantenedora do Incor. O exame custa
R$ 2.800 para pacientes particulares. No Sírio Libanês, o preço varia de R$ 3.100 a R$ 3.300.
Ramires diz que a não-inclusão
do exame na tabela do SUS acontece porque o ministério ainda
não sabe quanto vai pagar pelo
procedimento. "É preciso muita
análise e o estabelecimento de critérios claros para pagar o exame",
afirma. Outros 19 hospitais brasileiros estariam interessados na
compra do PET, segundo ele.
Segundo o médico David Uip,
diretor-executivo do Incor, o exame também não está sendo pago
pelos planos de saúde, que estariam esperando a definição do
SUS para estabelecer o valor.
Ainda assim, segundo ele, o instituto tem feito o procedimento
em pacientes conveniados cobrando apenas o valor do material
radioativo utilizado, que custa
R$ 750 a dose.
"Não podemos deixar o aparelho parado. Custou muito dinheiro para quebrar por falta de uso",
afirma Uip.
Embora possa ser utilizado para
detectar disfunções cardíacas e
neurológicas, o Incor tem usado o
PET essencialmente para examinar pacientes com câncer já diagnosticado. Também é necessário
que o encaminhamento seja feito
pelo médico.
Uma das vantagens do PET, diz
Ramires, é apontar com precisão
se o tumor apresenta metástase,
informação fundamental para
que o médico decida qual o melhor tratamento, cirurgia ou quimioterapia, por exemplo.
Acordo
Outro empecilho para a realização em grande escala de exames
pelo PET é a dificuldade de se obter a matéria-prima necessária no
procedimento. Diferentemente
de outros exames, o tipo de material radioativo (isótopo) usado
para exames nesse aparelho é de
curta duração: apenas duas horas
depois de fabricado.
E, por se tratar de material radioativo, controlado pelo governo
federal, o isótopo é fabricado em
São Paulo apenas pelo Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e
Nucleares), que não tem condições técnicas para atender uma
grande demanda de exames por
dia. Para o Incor, por exemplo, o
fornecimento só acontece às terças e quintas-feiras.
Ipen e Incor já firmaram uma
parceria para que o último comece a fabricar e a fornecer o material radioativo de curta duração
para outros hospitais, clínicas e
laboratórios. Segundo Ramires, o
Incor já comprou o equipamento
-que custou US$ 2,8 milhões-
e começará a fabricar a substância
radioativa ainda neste semestre.
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