São Paulo, sábado, 4 de julho de 1998

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SAÚDE
Prefeito exonera por justa causa diretor que apontou falhas em hospital de Guarulhos onde morreram 5 bebês
Demitido médico que denunciou maternidade

da Reportagem Local

O diretor clínico do Hospital Maternidade Municipal de Guarulhos (Grande São Paulo), Cid Vieira Franco de Godoy Filho, foi exonerado ontem "por justa causa" pelo prefeito Néfi Tales (PDT).
Havia pelo menos dois meses que Godoy Filho vinha denunciando por meio da imprensa e ao CRM (Conselho Regional de Medicina) as más condições de atendimento do hospital, geradas principalmente pela falta de investimentos.
No final de semana passado, cinco bebês morreram na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal do hospital (leia texto abaixo).
Segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura de Guarulhos, Godoy Filho foi demitido por ter "desacatado" seus superiores.
Por orientação do setor jurídico do Sindicato dos Médicos de São Paulo, o diretor do hospital não concedeu entrevistas à imprensa para comentar sua exoneração.
Em protesto contra a decisão de Néfi Tales, os médicos do hospital ameaçam entrar em greve na próxima quarta-feira, caso a exoneração não seja revista (leia texto nesta página).
Para o presidente da entidade, José Erivalder de Oliveira, a demissão foi "injusta e arbitrária".
Ontem pela manhã, técnicos da Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado da Saúde voltaram a vistoriar o hospital.
A vistoria foi realizada para confirmar se o hospital vem atendendo às orientações da própria secretaria para melhorar o atendimento à população.
Entre as recomendações da secretaria estão a interdição da UTI neonatal e pediátrica e a incineração de medicamentos vencidos.
O resultado da vistoria de ontem não foi divulgado pelos técnicos da Vigilância Sanitária nem pela assessoria de imprensa da Secretaria da Saúde.
Desde a morte dos bebês, o hospital só vem prestando atendimentos de urgência e emergência. O atendimento de bebês foi transferido para o hospital Leonor Mendes de Barros, no Belém (zona sudeste de São Paulo).
Denúncias
A principal denúncia de Godoy Filho é que o hospital enfrenta um déficit de 50% no quadro de pessoal de enfermagem e de 20% no de médicos. Em recente entrevista, ele disse que "faltam materiais básicos, os filtros de ar dos berços da UTI estão vencidos e exames que deveriam demorar 40 minutos se estendem por seis horas".
Ele não descarta nem mesmo uma relação entre as mortes dos bebês e as más condições do hospital. "Não podemos afirmar nem negar que os bebês tenham sido vítimas de infecção hospitalar. Se estivessem em outro hospital, com melhores condições, talvez tivessem sobrevivido."



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