São Paulo, sexta-feira, 04 de agosto de 2006

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BARBARA GANCIA

Sorria você está sendo filmado

Temos mais é de aplaudir o voyeurismo digital que pega no pulo bandidos e gente da laia de Mel Gibson

ALÔ, VOCÊ, FERNANDO Vanucci! Não disse que outros casos bem mais cabeludos do que o seu chegariam a galope?
O tal vídeo com o apresentador esportivo da RedeTV! enrolando a língua e falando fora de contexto que tanto sucesso fez no site You Tube é fichinha perto das imagens de Mel Gibson que circulam, desde domingo, pelos sites de fofocas.
Bem, não é de hoje que nós sabemos que o fundamentalista Gibson consegue a façanha de pertencer a dois clubes aparentemente distintos, o da ralé e o dos bilionários de Hollywood. Pois, nestes dias de conflito avassalador no Oriente Médio, é preciso que fique bem claro que gente como Mel Gibson faz parte da escória humana junto com todos os outros fanáticos, oportunistas e demagogos religiosos da laia dele.
Para quem não sabe, na última sexta, o ator de "Do Que as Mulheres Gostam" foi preso por dirigir embriagado e, depois de tentar a cartada "sabe com quem está falando?", passou a ofender o policial que o prendeu, um judeu, dizendo, entre outros impropérios, que os judeus são "bastardos" e que teriam começado "todas as guerras do mundo". Mel não podia ter tomado seu porre em hora pior. Junte às acusações de anti-semitismo contra o filme dirigido por ele, "A Paixão de Cristo", as afirmações "in vino veritas" de sexta-feira passada e coloque tudo no contexto atual.
Só um milagre fará com que Mel Gibson não vire persona non grata nos estúdios entre Sunset Boulevard e a fronteira com o México.
É impossível ficar alheio ao que está acontecendo no Líbano e, nas últimas semanas, desde que o conflito entre o Hizbollah e Israel teve início, muita gente já tomou partido de um lado e de outro. Mas, hoje, aqui neste espaço, nós não vamos entrar no mérito da questão. Reservo-me apenas o direito de lembrar que Israel é o único estado democrático do Oriente Médio e de recomendar ao leitor que lê inglês o livro "The Case for Israel", do professor de Direito de Harvard Alan Dershowitz, para que ele possa compreender melhor a violência da retaliação israelense.
Hoje, aqui neste acanhado canto de página, o assunto ainda é a invasão de privacidade proporcionada pela internet e pelas inovações tecnológicas. Veja só: ontem, as câmeras do novo sistema de monitoramento da Guarda Civil Metropolitana instaladas no centro (serão 35 até o final de agosto) flagraram cenas de uso de cocaína em plena av. Ipiranga e imagens da venda de celulares roubados na av. São João.
Assim como os londrinos, estamos nos acostumando a sorrir ao sermos filmados na banca de jornal, no elevador e no estacionamento. A contrapartida da nossa perda de privacidade deve ser a exigência de que as autoridades aprendam com os desacertos já cometidos. Tal e qual os londrinos, não queremos ser surpreendidos por erros fatais, como aquele em que as imagens gravadas fizeram supor que Jean Charles de Menezes era um terrorista.
De minha parte, enquanto as câmeras da polícia e dos celulares de anônimos servirem para pegar no pulo bandidos ou pães bolorentos como o senhor Gibson, eu aplaudirei de pé o voyeurismo digital.


barbara@uol.com.br

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