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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/MUDANÇAS
Chefe de agência espacial assume Infraero
Nove dias depois de assumir o ministério da Defesa, Nelson Jobim demitiu ontem o brigadeiro José Carlos Pereira
Gaudenzi é filiado ao PSB e
atual presidente da Agência
Espacial Brasileira,
vinculada ao Ministério de
Ciência e Tecnologia
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
FELIPE BÄCHTOLD
DA AGÊNCIA FOLHA
Em sua primeira substituição no setor da aviação, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, demitiu ontem o brigadeiro José Carlos Pereira da presidência da Infraero. Seu sucessor será o ex-deputado Sérgio
Maurício Britto Gaudenzi, que
toma posse segunda.
Engenheiro baiano, Gaudenzi, 65, é filiado ao PSB e atual
presidente da AEB (Agência
Espacial Brasileira), do Ministério de Ciência e Tecnologia.
Foi secretário da Fazenda da
Bahia durante o governo de
Waldir Pires (1987-1989), ex-ministro da Defesa, e ficou amigo de Nelson Jobim na Câmara,
na legislatura de 1991 a 1995.
A mudança ocorre nove dias
após a posse de Jobim na Defesa, onde já anunciou que queria
mudanças até "o começo da semana" -que acaba hoje.
A Infraero é a estatal que cuida da infra-estrutura de 67 aeroportos, 84 unidades de apoio
e 33 terminais de carga. Em
2006, arrecadou R$ 2 bilhões
em taxas e concessão de espaços comerciais. Desde 2003,
tem mais de 80 processos no
Tribunal de Contas da União.
Ouvido pela reportagem,
Gaudenzi não confirmou a indicação para a presidência da
Infraero, mas afirmou que foi
procurado pelo ministro Nelson Jobim durante a semana.
Acúmulo
Sobre a crise aérea, Gaudenzi
disse tratar-se de um "acúmulo
de problemas". "Eu ouço dizer
do pessoal da aviação o seguinte: avião, quando tem problema, nunca é uma coisa só".
O presidente da Agência Aeroespacial Brasileira também
afirma que um dos fatores que
contribuem para a crise é uma
falta de coordenação nas ações
tomadas pela Infraero e pela
Anac. Mas diz que fala isso "como leigo, como leitor de jornal". Para ele, não há como dar
um diagnóstico sem conhecer a
estrutura das instituições por
dentro.
"É preciso juntar essas pontas [Infraero e Anac], é preciso
trabalhar mais junto. Para dar
uma cobertura melhor, tem
que ter um trabalho conjunto".
Um minuto
A conversa de Jobim com o
brigadeiro J. Carlos, como é conhecido, aconteceu na tarde de
ontem, na Base Aérea de Brasília. Conforme a Folha apurou,
durou um minuto, tempo para
que o ministro comunicasse
que ele estava deixando o cargo
e que a posse e a transmissão à
Gaudenzi serão na segunda.
J. Carlos deixa o cargo desgastado "por falar demais" e
sob suspeitas de corrupção e
má qualidade das obras da estatal na gestão anterior, do hoje
deputado federal Carlos Wilson (PT-PE) e quando Pereira
era diretor de operações. A última controvérsia envolvendo
o brigadeiro foi a entrega da
pista principal de Congonhas
sem o "grooving" (ranhuras),
semanas antes do acidente.
Pereira foi informado no dia
25 de julho que deixaria o cargo. Nos bastidores, porém, vinha tentando manter-se na
função, argumentando que
problemas independiam dele: a
diretoria é loteada por interesses políticos e que não tinha
autonomia para mudanças.
Brigadeiros amigos de J. Carlos ainda tentaram interceder,
inclusive o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, sem sucesso. Jobim reclamou que ele
"falava demais" e era "muito
confuso" durante as reuniões.
Apesar de toda a imprensa
ter publicado que estava deixando o cargo, J. Carlos ainda
participou da primeira reunião
do Conselho Nacional de Aviação Civil, já com Jobim.
Dois dias depois, voltaram a
se encontrar na Defesa. Foi
quando o brigadeiro entregou
ao ministro um plano para recuperar uma das pistas de Guarulhos, em três etapas.
Em entrevista à Folha, J.
Carlos havia classificado a pista
de "não confiável" e advertia
que não concordava com a posição da Agência Nacional de
Aviação Civil de postergar o
início das obras para 2008. O
orçamento é de R$ 11 milhões,
já com as ranhuras, e ele disse
que a Infraero estava com tudo
pronto para começar.
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