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SEGURANÇA
Justificativa foi a falta de condições do prédio após jovens queimarem colchões; acusados de homicídio estão entre os libertados
Infrator põe fogo em cela e é solto por juiz
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Sete adolescentes infratores que
estavam recolhidos provisoriamente em três celas do 5º Distrito
Policial de Piracicaba, entre eles
dois acusados de homicídio, foram colocados em liberdade no
último dia 25, após terem feito
uma rebelião e colocado fogo nos
colchões.
A decisão foi tomada pelo juiz
da Infância e Juventude de Piracicaba, Wander Pereira Rossette Júnior, que justifica sua decisão com
o argumento de que o prédio está
em más condições e se tornou insalubre para manter adolescentes.
O juiz também determinou a interdição temporária do prédio para que sejam feitas reformas. O local, com três celas e espaço para
banho de sol, tem capacidade para abrigar até 15 adolescentes. Os
adultos ficam em celas separadas.
A promotora da Infância e Juventude da cidade, Milene Telezzi, recorreu da decisão do juiz no
Tribunal de Justiça. Ela disse considerar a medida judicial inadequada por, em tese, servir como
incentivo para rebeliões.
"Não havia motivos para o juiz
colocar esses adolescentes na rua.
Todos cometeram crimes graves,
vários deles eram reincidentes e
agora estão impunes, estão na rua
novamente", disse Telezzi.
Para a promotora, o fato de o
juiz ter determinado a interdição
temporária do local por falta de
condições não significa que os
adolescentes deveriam ter sido
colocados em liberdade.
"A medida correta seria solicitar
vagas em alguma unidade da Febem na região", disse a promotora. As duas unidades mais próximas de Piracicaba ficam em Campinas. Segundo a Febem, há 31
adolescentes de Piracicaba internados em suas unidades: 21 em
São Paulo, dois na Grande São
Paulo e oito em Iaras.
Segundo especialistas, a medida
adotada pelo juiz é legal e está de
acordo com o previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Assassinato
Entre os adolescentes liberados
estavam dois acusados de homicídio e cinco acusados de roubo
com ameaça ou agressão. Somente um deles não possuía passagens pela polícia. Eles estavam recolhidos havia cerca de 20 dias.
Um deles é acusado de ter assassinado com quatro tiros na cabeça
o comerciante José Maria de Souza, 61, em plena luz do dia. Após o
crime, a família mudou do local.
O juiz alega ter encaminhado os
adolescentes rebelados para programas de liberdade assistida em
duas entidades de Piracicaba: o
Seame (Serviço de Apoio ao Menor) e o Recanto da Esperança.
Nenhuma entidade confirmou a
informação.
Questionado sobre a situação, o
juiz disse que o adolescente deve
se apresentar nas entidades sozinho, sem encaminhamento policial. "Se em 30 dias ele não se
apresentar, aí sou avisado e tomo
as providências necessárias."
Esta não foi a primeira vez que o
juiz determinou a liberação de
adolescentes infratores graves
após uma rebelião. Em fevereiro
de 2003, após um tumulto entre
cinco adolescentes que estavam
detidos, Rossette também mandou soltá-los.
Rossette teve de mandar recolher novamente os adolescentes
por determinação do Tribunal de
Justiça de São Paulo, após recurso
do Ministério Público Estadual.
Interdição
Como o prédio da cadeia foi interditado provisoriamente, não
há lugar para recolher um adolescente que, eventualmente, cometa
algum crime na cidade.
De acordo com Rossette, a lei
prevê que o adolescente fique custodiado provisoriamente em cadeias por, no máximo, cinco dias.
Depois, em locais adequados, eles
podem permanecer 45 dias
aguardando decisão judicial.
No entanto a falta de vagas em
unidades da Febem e a ausência
de locais adequados para internação provisória tornam freqüentes
as prorrogações das detenções em
celas de distritos policiais.
O delegado seccional de Piracicaba, Luiz Henrique Zago, disse
que não sabe quando o prédio será reformado. "Decisão judicial a
gente não questiona, a gente cumpre", afirmou.
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