São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2005

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SAÚDE/ESTÉTICA

Mesmo musculosos, homens se acham magros e fracos e apelam a anabolizantes

Culto obsessivo ao corpo pode provocar distúrbio

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O excesso de vaidade e a obsessão para manter um corpo bonito não são ansiedades exclusivas das mulheres. Muito pelo contrário. A busca exagerada pelo físico perfeito também atinge os homens, que estão cada dia mais preocupados com a aparência. O problema acontece quando a procura pela perfeição extrapola os limites do corpo e torna-se uma doença conhecida como vigorexia.
A vigorexia é um transtorno psiquiátrico do culto ao corpo. Os homens que têm esse problema nunca estão satisfeitos com a sua imagem. Apesar de terem corpos musculosos, eles continuam se achando miúdos e fracos.
"Eles passam a praticar exercícios físicos em excesso e fazem uso indiscriminado de anabolizantes, que são drogas sintéticas derivadas da testosterona, principal hormônio masculino", explica o psicólogo Niraldo de Oliveira Santos, que integra o grupo de atendimento para usuários de anabolizantes do Hospital das Clínicas de São Paulo.
A maior dificuldade desses pacientes, segundo Oliveira, é admitir que têm a doença. "Eles têm dificuldade de entender que sofrem de uma doença e que precisam de tratamento psicológico e até mesmo psiquiátrico", diz.
O uso de anabolizantes sem indicação médica é o maior risco dos vigoréxicos, que podem sofrer atrofia dos testículos e perda da capacidade de ereção, além de danos nos rins e no fígado.
A atrofia dos testículos pode levar à infertilidade do homem. Isso acontece porque a maior parte da testosterona é produzida pelos testículos, por meio do hormônio LH, liberado pela hipófise (glândula que fica no cérebro).
"Com hormônio em excesso no organismo, a hipófise e os testículos entendem que não precisam mais trabalhar. Isso faz uma verdadeira salada no organismo dos homens, mas eles não se incomodam com isso", alerta Antônio Roberto Chacra, endocrinologista-chefe da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
O urologista Eduardo Bertero, do Hospital do Servidor Público Estadual, diz que, depois de atrofiados, os testículos não voltam a funcionar. "É como uma morte celular. Se isso chegar a acontecer, provavelmente esse homem ficará infértil", afirma o especialista.
Keila Fontana, doutora em fisiologia do exercício e professora da UnB (Universidade de Brasília), diz que o uso contínuo de anabolizantes pode causar sérios traumas nos músculos, tendões, ligamentos e ossos.
"O anabolizante faz com que os músculos cresçam muito rápido. As articulações não têm tempo suficiente para crescer e se desenvolver com a mesma rapidez."


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