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São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2003

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DIREITOS HUMANOS

Em seu primeiro dia de visita ao Rio, Asma Jahangir reclamou da ausência de dados oficiais sobre violência

Enviada da ONU critica falta de estatísticas

FERNANDA DA ESCÓSSIA
MARIO HUGO MONKEN

DA SUCURSAL DO RIO

A relatora das Nações Unidas para execuções sumárias, Asma Jahangir, disse ter ficado "insatisfeita" em seu primeiro dia de trabalho no Rio de Janeiro.
Ela afirmou não ter recebido estatísticas oficiais -seja da polícia, do Ministério Público ou da Justiça- sobre o número de policiais indiciados, denunciados ou condenados por homicídios, de pessoas mortas no sistema penitenciário e o perfil das vítimas.
"Eu precisava de uma coisa mais concreta, mais real para fazer uma avaliação mais precisa sobre a violência. Não tive os números que eu queria nas mãos."
A relatora afirmou ter recebido das autoridades do Rio a informação de que "tudo vai bem" no Estado. Ela se encontrou ontem com o chefe da Polícia Civil, Álvaro Lins, o secretário estadual de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, o presidente do Tribunal de Justiça, Miguel Pachá, e o procurador de Justiça do Estado, Antônio Vicente.
"Vim ao Rio para saber das pessoas de quais reformas elas precisavam. No entanto me dizem que está tudo bem e eu não sei o que fazer", declarou.

Aumento de mortes
Um relatório preparado por grupos de defesa de direitos humanos, a ser entregue hoje à relatora, mostra que a polícia do Rio de Janeiro está matando mais.
De acordo com dados publicados nos boletins da Secretaria de Segurança Pública, as mortes em confronto -classificadas como autos de resistência- subiram 110% de 2000 para 2002.
De acordo com o relatório, em 2000 foram 427 mortes. O número subiu para 592 em 2001 e 900 em 2002. Até agosto deste ano, a tendência é de aumento: são 815 mortes -média mensal de 101,8 ocorrências, 35% a mais que a média mensal do ano passado.
O documento foi feito pelo Cejil (Centro pela Justiça e o Direito Internacional), pelo Centro de Justiça Global, pelo Núcleo de Direitos Humanos da PUC-Rio e pelo Laboratório de Análise da Violência da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
"Queremos que ela veja que o Estado é o principal agente de violação de direitos", afirma Marcelo Freixo, da ONG Centro de Justiça Global.
A relatora da ONU ouviu do presidente do Tribunal de Justiça críticas à atuação da Polícia Civil. Segundo Pachá, a polícia judiciária é ineficiente na investigação e a Justiça só pode atuar se o inquérito estiver bem apurado.
Pachá afirmou que, enquanto a violência cresceu no Rio, o número de processos caiu nos últimos dois anos. A redução, de acordo com ele, fez com que o Estado fechasse varas criminais por falta de movimento.
"Viemos aqui saber o que se pode fazer para reduzir a impunidade", afirmou Jahangir.
O chefe da Polícia Civil, Álvaro Lins prometeu entregar, na segunda-feira, um relatório com os casos, o número de mortes e o perfil dos mortos por policiais.
Segundo Lins, a relatora estranhou o fato de dois inquéritos, um estadual e um federal, apurarem a morte do comerciante Chan Kim Chang, torturado no presídio no mês passado.


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