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DIREITOS HUMANOS
Em seu primeiro dia de visita ao Rio, Asma Jahangir reclamou da ausência de dados oficiais sobre violência
Enviada da ONU critica falta de estatísticas
FERNANDA DA ESCÓSSIA
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
A relatora das Nações Unidas
para execuções sumárias, Asma
Jahangir, disse ter ficado "insatisfeita" em seu primeiro dia de trabalho no Rio de Janeiro.
Ela afirmou não ter recebido estatísticas oficiais -seja da polícia,
do Ministério Público ou da Justiça- sobre o número de policiais
indiciados, denunciados ou condenados por homicídios, de pessoas mortas no sistema penitenciário e o perfil das vítimas.
"Eu precisava de uma coisa
mais concreta, mais real para fazer uma avaliação mais precisa
sobre a violência. Não tive os números que eu queria nas mãos."
A relatora afirmou ter recebido
das autoridades do Rio a informação de que "tudo vai bem" no Estado. Ela se encontrou ontem com
o chefe da Polícia Civil, Álvaro
Lins, o secretário estadual de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, o presidente do Tribunal de Justiça, Miguel
Pachá, e o procurador de Justiça
do Estado, Antônio Vicente.
"Vim ao Rio para saber das pessoas de quais reformas elas precisavam. No entanto me dizem que
está tudo bem e eu não sei o que
fazer", declarou.
Aumento de mortes
Um relatório preparado por
grupos de defesa de direitos humanos, a ser entregue hoje à relatora, mostra que a polícia do Rio
de Janeiro está matando mais.
De acordo com dados publicados nos boletins da Secretaria de
Segurança Pública, as mortes em
confronto -classificadas como
autos de resistência- subiram
110% de 2000 para 2002.
De acordo com o relatório, em
2000 foram 427 mortes. O número subiu para 592 em 2001 e 900
em 2002. Até agosto deste ano, a
tendência é de aumento: são 815
mortes -média mensal de 101,8
ocorrências, 35% a mais que a
média mensal do ano passado.
O documento foi feito pelo Cejil
(Centro pela Justiça e o Direito Internacional), pelo Centro de Justiça Global, pelo Núcleo de Direitos
Humanos da PUC-Rio e pelo Laboratório de Análise da Violência
da Uerj (Universidade do Estado
do Rio de Janeiro).
"Queremos que ela veja que o
Estado é o principal agente de violação de direitos", afirma Marcelo
Freixo, da ONG Centro de Justiça
Global.
A relatora da ONU ouviu do
presidente do Tribunal de Justiça
críticas à atuação da Polícia Civil.
Segundo Pachá, a polícia judiciária é ineficiente na investigação e a
Justiça só pode atuar se o inquérito estiver bem apurado.
Pachá afirmou que, enquanto a
violência cresceu no Rio, o número de processos caiu nos últimos
dois anos. A redução, de acordo
com ele, fez com que o Estado fechasse varas criminais por falta de
movimento.
"Viemos aqui saber o que se pode fazer para reduzir a impunidade", afirmou Jahangir.
O chefe da Polícia Civil, Álvaro
Lins prometeu entregar, na segunda-feira, um relatório com os
casos, o número de mortes e o
perfil dos mortos por policiais.
Segundo Lins, a relatora estranhou o fato de dois inquéritos,
um estadual e um federal, apurarem a morte do comerciante
Chan Kim Chang, torturado no
presídio no mês passado.
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