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OPINIÃO
A tragédia dos aposentados
ARNALDO NISKIER
Os burocratas da educação descobriram uma fórmula muito eficiente para destruir a tranquilidade dos inativos. Espalham por aí
que não há dinheiro para o pagamento das aposentadorias: "Se
não houver um milagre, dentro de
dois anos ninguém mais vai receber coisa alguma".
A nossa previdência é um baú furado. A partir da emenda João Calmon, quando foram destinados
12% dos impostos federais para a
educação, os inativos foram colocados no mesmo balaio dos compromissos obrigatórios, desonerando o governo de atribuir recursos específicos para o pagamento
dos inativos via Ministério da Administração. Ficou tudo sob responsabilidade do MEC (Ministério da Educação).
Hoje, as universidades federais
gastam mais de 50% dos seus orçamentos com o pagamento dos inativos, o que logo inviabilizará a
manutenção e o desenvolvimento
do ensino superior brasileiro.
Ou seja, cresce o movimento
junto à opinião pública no sentido
de provar que os aposentados estão sacrificando o futuro da nossa
educação de 3º grau.
Jogar a responsabilidade pela
aposentadoria em cima dos ombros de Estados e municípios é
acabar com os sistemas de ensino.
Já chega que o Brasil criou uma
original aposentadoria precoce
para compensar os baixos salários.
Não seria muito mais inteligente
pensar no que fazem os países
mais desenvolvidos, em que as
aposentadorias começam a ser
consideradas a partir dos 55 anos
de idade? A precocidade praticada
entre nós coloca os professores como vítimas, com baixíssimos salários e nenhuma garantia de pagamento.
Por isso, somos partidários da
criação de planos de aposentadoria complementar (fundos de pensão). Com a ajuda inicial mais expressiva dos governos, os professores contribuiriam para planos
específicos de benefícios.
Hoje, nos Estados Unidos, os
professores do Tiaa-Cref, que é o
maior fundo de pensão do mundo,
recebem mais de US$ 2.000 mensais de complementação pelo resto
da vida.
Não há como comparar a situação dos professores dos Estados
Unidos e do Brasil, é claro, mas
podemos sonhar com o futuro em
que também aqui alguns dos nossos maiores fundos de pensão pertencerão ao magistério.
Devemos abrir os olhos para o
que representa a previdência complementar como forma de socialização do capital. Os trabalhadores
já estão mobilizados para isso. Falta uma compreensão maior dos
professores e especialistas, hoje
ainda perplexos diante de tanta
notícia ruim e aparentemente sem
perspectiva.
Arnaldo Niskier, 62, escritor e professor, é presidente da Academia Brasileira de Letras
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