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Retrospecto de mobilizações indica que motoristas pressionam prefeitura quando empresários também buscam vantagens
Greves revelam convergência de interesses
DA REPORTAGEM LOCAL
A mobilização de motoristas de
ônibus nos mesmos momentos
em que a prefeitura é pressionada
por empresários é um fato constante na administração Marta Suplicy (PT) e já foi alvo de frequentes acusações de locaute.
As primeiras paralisações e
ameaças de greve aconteceram logo no primeiro semestre de 2001,
quando Marta anunciou a suspensão da política de subsídios, a
partir de maio daquele ano.
Na mesma época, os empresários reivindicavam a elevação da
tarifa de R$ 1,15, que estava sem
reajuste desde janeiro de 1999.
A tensão no transporte só foi reduzida, na época, quando a passagem subiu para R$ 1,40.
A prefeitura também viveu momentos de pressão no ano passado. Em maio, as viações reclamavam uma compensação do poder
público por ter de pagar reajustes
salariais. Os trabalhadores ameaçaram fazer greve, e
Marta cedeu, abrindo mão de
uma taxa de gerenciamento do
sistema -R$ 0,02 que eram cobrados de cada passagem.
Dois meses depois, ao tentar
lançar a licitação do novo sistema
de transporte, motoristas impediram a realização de audiência pública que formalizaria a concorrência, sob a alegação de que haveria demissões. No final de julho,
as turbulências prosseguiram
quando empresários e prefeitura
divergiam sobre a renovação dos
contratos emergenciais.
Os patrões, quando há greve,
não costumam recorrer à Justiça para suspender a mobilização. O
pedido de julgamento das paralisações, geralmente, é feito pela
prefeitura ou Ministério Público.
Os empresários de ônibus preferem negociar diretamente com a
categoria e governo municipal para resolver esses impasses.
Estratégia
O sindicato atribui as mobilização da categoria a interesses diretos dos trabalhadores -ainda
que, muitas vezes, também representem interesses dos patrões.
Nas palavras de um dos diretores
da entidade, eles podem até "entrar no jogo dos patrões" para
melhorar a situação da categoria.
Na visão dele, se as viações são beneficiadas e dão lucro, os salários
não atrasam e não há demissões.
A estratégia de atuação da categoria é articulada por Edivaldo
Santiago, que é considerado um
"carrasco" pelas administrações
petistas, apesar de ter sido "formado" dentro da CUT (Central
Única dos Trabalhadores).
Ele liderou uma greve de nove
dias em 1992, no final do governo
Luiza Erundina, quando começou a se afastar da CUT e do PT.
Hoje, é ligado à Força Sindical.
Santiago nega com veemência a
prática de locaute na paralisação
desta semana ou nas anteriores.
Ele disse ontem que a mobilização
desta semana "foi uma das mais
importantes já feitas pela categoria". "Tornamos públicas as nossas reivindicações, que passaram
a ser conhecidas pela população."
O sindicalista rebate a acusação
de parceria com os patrões sob a
alegação de que fizeram "denúncias gravíssimas" do desrespeito
das empresas à lei, pelo não-recolhimento do FGTS e INSS.
O Transurb (sindicato dos patrões) também voltou a negar ter
interesse na greve. A entidade alega ter tido um prejuízo de R$ 12
milhões, que deixaram de ser arrecadados -sem contar os ônibus danificados no movimento.
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