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São Paulo, quarta-feira, 05 de fevereiro de 2003

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Retrospecto de mobilizações indica que motoristas pressionam prefeitura quando empresários também buscam vantagens

Greves revelam convergência de interesses

DA REPORTAGEM LOCAL

A mobilização de motoristas de ônibus nos mesmos momentos em que a prefeitura é pressionada por empresários é um fato constante na administração Marta Suplicy (PT) e já foi alvo de frequentes acusações de locaute.
As primeiras paralisações e ameaças de greve aconteceram logo no primeiro semestre de 2001, quando Marta anunciou a suspensão da política de subsídios, a partir de maio daquele ano.
Na mesma época, os empresários reivindicavam a elevação da tarifa de R$ 1,15, que estava sem reajuste desde janeiro de 1999.
A tensão no transporte só foi reduzida, na época, quando a passagem subiu para R$ 1,40.
A prefeitura também viveu momentos de pressão no ano passado. Em maio, as viações reclamavam uma compensação do poder público por ter de pagar reajustes salariais. Os trabalhadores ameaçaram fazer greve, e Marta cedeu, abrindo mão de uma taxa de gerenciamento do sistema -R$ 0,02 que eram cobrados de cada passagem.
Dois meses depois, ao tentar lançar a licitação do novo sistema de transporte, motoristas impediram a realização de audiência pública que formalizaria a concorrência, sob a alegação de que haveria demissões. No final de julho, as turbulências prosseguiram quando empresários e prefeitura divergiam sobre a renovação dos contratos emergenciais.
Os patrões, quando há greve, não costumam recorrer à Justiça para suspender a mobilização. O pedido de julgamento das paralisações, geralmente, é feito pela prefeitura ou Ministério Público. Os empresários de ônibus preferem negociar diretamente com a categoria e governo municipal para resolver esses impasses.

Estratégia
O sindicato atribui as mobilização da categoria a interesses diretos dos trabalhadores -ainda que, muitas vezes, também representem interesses dos patrões. Nas palavras de um dos diretores da entidade, eles podem até "entrar no jogo dos patrões" para melhorar a situação da categoria. Na visão dele, se as viações são beneficiadas e dão lucro, os salários não atrasam e não há demissões.
A estratégia de atuação da categoria é articulada por Edivaldo Santiago, que é considerado um "carrasco" pelas administrações petistas, apesar de ter sido "formado" dentro da CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Ele liderou uma greve de nove dias em 1992, no final do governo Luiza Erundina, quando começou a se afastar da CUT e do PT. Hoje, é ligado à Força Sindical.
Santiago nega com veemência a prática de locaute na paralisação desta semana ou nas anteriores. Ele disse ontem que a mobilização desta semana "foi uma das mais importantes já feitas pela categoria". "Tornamos públicas as nossas reivindicações, que passaram a ser conhecidas pela população."
O sindicalista rebate a acusação de parceria com os patrões sob a alegação de que fizeram "denúncias gravíssimas" do desrespeito das empresas à lei, pelo não-recolhimento do FGTS e INSS.
O Transurb (sindicato dos patrões) também voltou a negar ter interesse na greve. A entidade alega ter tido um prejuízo de R$ 12 milhões, que deixaram de ser arrecadados -sem contar os ônibus danificados no movimento.


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