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ABANDONO
Locomotiva que realizava trajeto de São Paulo-Rio está empoeirada e sem manutenção; peças foram furtadas
Parado, Trem de Prata sofre ação do tempo
RICARDO GALLO
DA REDAÇÃO
Fica atrás dos portões de ferro
de uma estação da antiga RFFSA
(Rede Ferroviária Federal S.A.),
em Juiz de Fora (MG), um patrimônio esquecido que a ação do
tempo e dos vândalos trata de
consumir aos poucos. O nome,
um pouco empoeirado, permanece o mesmo: abandonado, sem
manutenção, ali está, há quase oito anos, o Trem de Prata.
Símbolo de glamour, a composição prateada, que fazia o trajeto
São Paulo-Rio, circulou entre dezembro de 1994 e novembro de
1998. Na ocasião, os passageiros
haviam rareado, muito pela concorrência de companhias rodoviárias e aéreas. Uma passagem de
avião SP-Rio custava cerca de R$
80 à época, por uma viagem de
apenas 50 minutos.
De trem, o percurso levava oito
horas por R$ 120, na cabine mais
barata. Também contribuiu para
abreviar a vida do Trem de Prata
sucessivos atrasos, causados pela
precariedade das linhas.
O trem, da década de 40, fabricado pela americana Budd, está
sob a guarda da RFFSA, que, desde 1999, está em fase de liqüidação. A empresa informou apenas
que nenhum trem será vendido.
Enquanto nenhuma parceria é
feita, o trem permanece encostado no pátio da estação de Francisco Bernardino da RFFSA. A aparência externa está conservada,
graças à estrutura de aço inoxidável. Dentro, porém, o requinte e a
limpeza deram lugar à sujeira, ao
mofo e ao aspecto de abandono.
O período sem uso fez do trem
alvo de ladrões. Segundo relatos
de quem o visitou, foram furtadas
peças do sistema hidráulico, componentes dos freios, cadeiras de
vime e parte dos colchões dos
dormitórios. A RFFSA informou
desconhecer os furtos.
"É um trem muito bonito para
ficar assim", afirma Wilson Geraldo Rodrigues, 62, o Wilson Mineiro, maquinista do Trem de
Prata por um ano e meio.
Passageiro da última viagem do
trem, o aposentado Walter Dreguer, 62, conta que, ao deixar de
rodar, as composições já haviam
perdido o glamour de antes. Para
Dreguer, paulistano da Penha, saber que o trem está abandonado
causa tristeza.
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