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Grupos de gays, estrangeiros, pit boys e endinheirados se espalham
pelo bairro e
têm até locais delimitados na areia da praia
Ipanema se divide para reinar no verão
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO
A exemplo de sua famosa garota, Ipanema achou sua verdadeira
"praia" neste verão e descobriu
como explorar a vocação internacional que Tom e Vinicius lhe deram. Espremida entre a proletarização de Copacabana -com suas
pastelarias chinesas e lojas de R$
1,99- e a auto-suficiência bairrista do Leblon- onde impera o orgulho de ser local-, Ipanema se
dividiu para reinar.
Rua a rua, entre a praia e a lagoa
Rodrigo de Freitas, Ipanema se
define por temas e conquista os
turistas que batem palmas -a cada pôr-do-sol- e pernas -dia e
noite pelo bairro.
Assim como cada tribo já delimitou seu lugar na areia da praia,
o mesmo acontece em todas as
dez ruas paralelas (ou quase) que
concentram o grosso do movimento do bairro. Cada uma e seus
arredores têm seu público alvo
-ou âncora.
Caipirinha e Feijoada
Partindo dos lados de onde o sol
nasce, do Arpoador, a primeira
parada é nas ruas Jangadeiros e
Teixeira de Melo, que ladeiam a
praça General Osório.
Outrora um ponto quase morto, que apenas se alegrava com os
desfiles da Banda de Ipanema e do
Bloco Simpatia É Quase Amor, o
local ganhou vida nova com a instalação de um pólo gastronômico.
É lá onde fica a Casa da Feijoada, para quem não teme a explosiva mistura calor-caloria-caipirinha. E também onde está a filial
com preços mais em conta do
Brasileirinho. Ali perto ainda está
o sofisticado Terzetto, italiano
com uma das melhores cartas de
vinho da cidade.
Ao redor da General Osório, ficam os internacionais Shenanigans e o Irish Pub, onde entre
"pints" de cerveja Guinness e batatas assadas, a língua que menos
se escuta em meio à juventude rosada é o português.
Os restaurantes da rua Jangadeiros decidiram se unir: "Eram
muitos mendigos e trombadinhas
na praça, que, à noite, era muito
escura. Contratamos seguranças
por 24 horas ao dia. As mudanças
beneficiaram todos os restaurantes no entorno da praça", afirmou
o dono do Banana Jack, João Diniz, 32, que produz sua própria
cerveja -uma delas com sabor
de banana.
Os donos dos restaurantes estão
investindo na iluminação e na revitalização da praça General Osório, e, em contrapartida, a Prefeitura do Rio autorizou que usem
um pedaço da calçada da praça
para, em estilo europeu, pôr mesas e cadeiras.
Comer, comer
Paralela à rua Farme de Amoedo, rumo ao Jardim de Alah, fica a
rua Vinicius de Moraes, antiga
rua Montenegro, onde os turistas
mais ortodoxos batem ponto.
Foi de um bar desta rua que o
poetinha viu Helô Pinheiro num
doce balanço a caminho do mar e
fez para ela -com o parceiro
Tom Jobim- uma das músicas
mais executadas no mundo. O
bar se chamava Veloso. Hoje, é
Garota de Ipanema.
"Esta é a rua mais importante
do bairro", afirma o gerente Ênio
Coelho, 48. Há 12 anos ali, ele garante que basta o nome para
atrair turistas.
Os segredos gastronômicos da
Vinicius ficam mais embaixo.
Entre as ruas Visconde de Pirajá
e Barão da Torre.
As opções são diversas: vão do
sofisticado Olivier Cozan, mistura de bistrô e restaurante francês,
ao simpático Mirai, japonês de
cozinha experimental, passando
pela pizzaria Capricciosa, que
ganhou o noticiário policial depois que seus donos foram acusados de exportar cocaína dentro
de bucho de boi para a Europa.
Galera "legalize"
Na seqüência, muda-se de praça e de mote. As ruas Joana Angélica e Maria Quitéria, com a
praça da Paz no meio, são redutos jovens por excelência.
A Maria Quitéria é a rua das
butiques: Osklen, Richard's, Redley (a caminho), MAC etc. É
também uma das calçadas mais
badaladas quando o sol se põe.
Vendedor da loja Jamf, de surfe, Bernard Saddy, 22, traduz no
seu dialeto o que é aquele point.
"Este aqui é o auge da garotada,
tem mais "vibe", um "lance" positivo. Mas é freqüentado pela nata, só por gente que tem poder
aquisitivo. Muita gente que vem
aqui freqüenta o posto nove, é
uma galera "legalize" [que usa
maconha]", afirmou.
Em frente ao bar Empório,
quase na esquina da rua Prudente de Moraes, sempre acontece
festa. Ambulantes vendem cerveja na calçada para quem tem
pouco dinheiro.
A azaração, dentro ou fora, é
total. É difícil uma moça passar
por ali sem ganhar um beijo na
boca -quer queira, quer não. E
do outro lado ainda inauguraram o Conversa Fiada, boteco de
estilo paulistano, que começa a
encher depois da praia.
De volta à praça, a idade sobe
um pouco, mas raramente chega
aos 30. É a Baronetti, boate da juventude dourada e de alguns pit
boys. Bares ali não faltam: há o
Informal, Itahy nas duas esquinas e o Mix By Bronze, para
quem quer uma mesa mais elaborada para ser visto.
Origens
Ipanema, com 112 anos de idade, teve como seus primeiros habitantes os índios tamoios. A origem do seu nome é controvertida. Pode ter vindo do tupi-guarani "Y-panema", que significa
água suja, algo bastante adequado para o verão da gigoga (planta
aquática que tomou conta das
praias cariocas).
Há também uma outra versão,
mais nobre: o nome viria do barão de Ipanema, proprietário das
terras e responsável pela sua divisão e venda de lotes.
A dúvida mostra que, desde o
nome, Ipanema se divide entre a
sofisticação e o inusitado.
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