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São Paulo, sábado, 05 de abril de 2003

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AMBIENTE

Com barragens e filtros, eles querem estancar o escoamento da carga tóxica que atinge os rios Pomba e Paraíba do Sul

Técnicos tentam conter derrame de resíduos

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CATAGUASES

Técnicos dos órgãos ambientais dos governos federal, mineiro e fluminense iniciaram operações emergenciais no ribeirão do Cágado, em Cataguases (MG), com o objetivo de estancar o escoamento da mistura tóxica que continua atingindo os rios Pomba e Paraíba do Sul e que já chegou ao oceano Atlântico.
Na reunião que fizeram ontem na cidade mineira, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e os governadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Rosinha Matheus (PSB-RJ) anunciaram as três principais medidas emergenciais que estão sendo tomadas, de maneira que as cerca de 700 mil pessoas do noroeste do Rio de Janeiro voltem a receber água tratada.
Os técnicos estão retirando resíduos acumulados às margens e ao longo do Cágado, colocando-os em pequenas barragens para conter a lama tóxica. Como o volume de água no leito do Cágado é pequeno, porém contínuo, a carga tóxica segue caindo no rio Pomba. Na confluência do ribeirão com o Pomba foram instalados filtros de carvão, serragem e areia para conter o material excedente.
Na outra barragem da empresa Cataguazes Florestal, que contém 700 milhões de litros da carga tóxica e pode romper com uma forte chuva, está sendo providenciada a transferência de parte do resíduo para uma outra caixa no mesmo local, própria para isso. O objetivo é aliviar o volume até que seja dada uma solução definitiva.
Apesar das providências, ninguém se arrisca a estabelecer um prazo para que as populações atingidas no Estado do Rio voltem a receber água tratada. Aécio Neves falou em "o mais rápido possível". O vice-governador do Rio, Luiz Roberto Conde, disse que, estancado o vazamento, aproximadamente 18 horas depois poderá ser possível retomar o tratamento da água.
Além dessas medidas, no encontro se discutiu a situação da empresa. Os políticos locais são contra o fechamento da fábrica Cataguazes de Papel, alegando que isso significaria o desemprego de cerca de 350 pessoas.
Aécio e Marina disseram que esse assunto será levado em consideração pelos órgãos ambientais, mas os governos de Minas e o federal não vão abrir mão de punição para os responsáveis pelo crime ecológico. "Não interessa a ninguém que essas empresas deixem de existir", disse Aécio. "Vamos agir de acordo com a lei para punir as responsabilidades. A gente não precisa fazer o linchamento de ninguém. Vamos procurar uma saída para os trabalhadores, mas essa resposta os técnicos vão dar do ponto de vista ambiental", disse Marina.
A Indústria Cataguazes de Papel obteve ontem liminar, concedida pelo juiz José Ricardo de Oliveira, que impede a suspensão das atividades da empresa. A Feam (Fundação Estadual do Meio Ambiente) informou que irá recorrer.
A ministra anunciou a realização de um mapa para identificar os passivos ambientais no país, para que os órgãos possam se antecipar e evitar as tragédias. Ela disse que o decreto proibindo a pesca nos rios atingidos no Estado do Rio visa o acionamento dos recursos, que devem vir do seguro-desemprego, para indenizar os pescadores artesanais.
Os donos da Cataguazes Florestal e da Cataguazes Papel, Félix Luís Santana Arencibia e João Gregório do Bem, responsabilizados pelo crime ambiental, tiveram as prisões decretadas, mas continuam "foragidos", segundo a Polícia Federal.


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