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Educador critica fato de professor corrigir redação
DA REPORTAGEM LOCAL
O professor da rede estadual é
parte interessada nos resultados
do Saresp e não deveria avaliar
seus alunos em um exame que
pretende medir o desempenho
escolar de forma isenta para corrigir possíveis falhas no sistema
educacional, avaliam educadores
ouvidos pela Folha.
"No Saresp, o trabalho do professor também está sendo avaliado. Não tem lógica o avaliado se
auto-avaliar", afirma a educadora
Elvira Souza Lima, consultora internacional de educação.
Roberto Portela, professor de
políticas públicas da Faculdade de
Educação da USP, concorda: "Esse fato enviesa o resultado e compromete a fidedignidade da pesquisa pela falta de controle". Para
ele, ainda que a Secretaria da Educação cruze as notas das provas
objetivas e de redação para identificar possíveis fraudes, é difícil a
detecção dos problemas porque
não há uma relação tão clara entre
as duas provas.
"A pessoa pode ter ido bem na
leitura e na interpretação de texto
e se saído mal na redação. Isso é
muito comum", diz Lima. Se a
pessoa escreve bem, afirma a educadora, certamente o faz também
na leitura e na interpretação de
texto. Por isso ela acha preferível
que os professores tivessem corrigido as provas objetivas e a Fundação Carlos Chagas, a redação.
Segundo Vera Masagão, da
ONG Ação Educativa, uma avaliação feita pelos professores é impensável quando se trata de avaliar um sistema. "A correção [da
redação] pressupõe critérios metodológicos claros. É preciso isolar elementos subjetivos. Ao corrigir a prova dos seus alunos, o
professor pode ser influenciado
pelo conhecimento prévio que já
tem deles."
Na avaliação de Lima, além do
problema ético, é preciso estar
atento ao fato de que muitos professores valorizam mais a intenção do aluno do que o texto escrito propriamente dito. "Intenção
não é escrita. Para escrever é preciso saber estruturar um texto e,
em um processo de avaliação, não
pode haver benevolência."
Para o educador Jason Prado,
diretor do Leia Brasil, uma ONG
carioca de promoção da leitura, o
fato de os professores terem corrigido as provas pode ser uma das
razões que explicam o bom desempenho dos alunos. "Os resultados estão na contramão de todos os índices de desempenho escolar que estão sendo medidos no
Brasil e no mundo."
Na opinião de Roberto Augusto
Torres Leme, da Udemo, a grande
falha do Saresp foi a correção ter
sido feita na escola. "A Fundação
Carlos Chagas é quem deveria ter
feito toda a correção." Para ele,
tanto os professores quanto os diretores de ensino não têm a isenção necessária para avaliar os seus
próprios estudantes.
"A gente tem um sentimento.
Costumamos falar erroneamente
"minha escola, meu aluno" como
se fossem nossas propriedades. É
a mesma coisa de fazer avaliação
do seu filho. A gente é um pouco
coruja e isso pode influenciar sim
na avaliação."
(CC)
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