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ARMADILHA
Jovens enganados perdem cerca de R$ 3.000
Brasileiros são vítimas de golpe de falsas agências na Espanha
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DE MADRI
Com a promessa de um bom salário, uma casa e um futuro promissor, jovens brasileiros que sonham em sair do Brasil têm sido
atraídos à Espanha por falsos
agentes de turismo.
Tudo não passa de uma armadilha. No final das contas, as vítimas
acabam abandonadas no país, algumas vezes no próprio aeroporto, sem nenhuma perspectiva de
trabalho, legalização dos documentos, moradia e com aproximadamente R$ 3.000 a menos.
"Mais cedo ou mais tarde, todos
se dão conta de que tudo não passa de uma mentira. Não há trabalho, nem casa. Só uma dívida no
Brasil feita com a viagem", afirma
Eduardo Fulan, 22, do interior do
Paraná, que há oito meses resolveu "mudar de vida".
Segundo a polícia, vários grupos operam de forma independente em diversos pontos da Espanha. Em Madri, pelo menos 30
brasileiros foram atraídos neste
ano com a garantia de emprego
na construção civil. Em Zaragoza
(leste da Espanha), outros 27 jovens denunciaram terem sido vítimas do mesmo golpe. Os dados
estão subestimados, diz a polícia,
já que a maioria não denuncia.
"Por vergonha, para não aceitar
o erro e não desanimar a família
no Brasil, ninguém procura a polícia ou o consulado", afirma Paulo C. M., 21, que pagou cerca de R$
1.500 na passagem e R$ 1.500 para
uma agência em Maringá, que se
apresentou como "especializada
em trabalhos internacionais".
O trabalho é feito em parceria.
No Brasil é feito o aliciamento,
por meio de telemarketing ou de
classificados em jornais. O principal alvo é o jovem, de 18 a 30 anos,
desempregado e com dificuldades financeiras. Um agente se encarrega de receber o brasileiro no
aeroporto e de levá-lo a um hotel.
A proposta é tentadora. Promete-se um trabalho em obras com
salário inicial de R$ 2.000 e moradia, com aluguel de R$ 70. Há garantia ainda da legalização dos
documentos espanhóis. O interessado deve pagar cerca de R$
1.500, metade no Brasil e outra na
Espanha, além da passagem.
"Quando pisei no aeroporto em
Madri, encontrei com o agente,
que me levou para um hotel. Depois, esperei dias por um telefonema, mas nada. Fiquei com a
conta do hotel, com a dívida da
passagem e sem emprego", diz o
paranaense W.S., 23, que se prepara para voltar para o Brasil.
Após a frustração, os brasileiros
buscam ajuda entre conterrâneos
que estão há mais tempo no país.
"Ajudamos as pessoas a conseguir emprego ou recolhemos dinheiro para que voltem para o
Brasil. Vi muitos passarem fome,
dormirem na rua e chorarem de
raiva", afirma Audreis da Silva,
que há oito anos mora em Madri.
Agentes
Para fugir da polícia, os agentes
brasileiros mudam constantemente de país, mas nunca perdem os contatos com as falsas
agências de turismo no Brasil.
O agente mais conhecido na Espanha é o paranaense Marcos
Terra, 30. Há nove meses, ele foi
detido pela polícia após ser acusado de tráfico de mão-de-obra. O
processo está aberto, mas Terra
fugiu para a Inglaterra. Na época,
ele negou as acusações e disse ser
vítima de desavenças pessoais.
Mesmo foragido, Terra continua operando. Em dois meses, teria levado 11 jovens para Londres.
Em Madri, esperava os brasileiros no aeroporto e os encaminhava a um hotel. Se comportava como anfitrião até o restante do pagamento ser feito. Depois, sumia.
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