São Paulo, domingo, 05 de agosto de 2001

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ARMADILHA

Jovens enganados perdem cerca de R$ 3.000

Brasileiros são vítimas de golpe de falsas agências na Espanha

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DE MADRI

Com a promessa de um bom salário, uma casa e um futuro promissor, jovens brasileiros que sonham em sair do Brasil têm sido atraídos à Espanha por falsos agentes de turismo.
Tudo não passa de uma armadilha. No final das contas, as vítimas acabam abandonadas no país, algumas vezes no próprio aeroporto, sem nenhuma perspectiva de trabalho, legalização dos documentos, moradia e com aproximadamente R$ 3.000 a menos.
"Mais cedo ou mais tarde, todos se dão conta de que tudo não passa de uma mentira. Não há trabalho, nem casa. Só uma dívida no Brasil feita com a viagem", afirma Eduardo Fulan, 22, do interior do Paraná, que há oito meses resolveu "mudar de vida".
Segundo a polícia, vários grupos operam de forma independente em diversos pontos da Espanha. Em Madri, pelo menos 30 brasileiros foram atraídos neste ano com a garantia de emprego na construção civil. Em Zaragoza (leste da Espanha), outros 27 jovens denunciaram terem sido vítimas do mesmo golpe. Os dados estão subestimados, diz a polícia, já que a maioria não denuncia.
"Por vergonha, para não aceitar o erro e não desanimar a família no Brasil, ninguém procura a polícia ou o consulado", afirma Paulo C. M., 21, que pagou cerca de R$ 1.500 na passagem e R$ 1.500 para uma agência em Maringá, que se apresentou como "especializada em trabalhos internacionais".
O trabalho é feito em parceria. No Brasil é feito o aliciamento, por meio de telemarketing ou de classificados em jornais. O principal alvo é o jovem, de 18 a 30 anos, desempregado e com dificuldades financeiras. Um agente se encarrega de receber o brasileiro no aeroporto e de levá-lo a um hotel.
A proposta é tentadora. Promete-se um trabalho em obras com salário inicial de R$ 2.000 e moradia, com aluguel de R$ 70. Há garantia ainda da legalização dos documentos espanhóis. O interessado deve pagar cerca de R$ 1.500, metade no Brasil e outra na Espanha, além da passagem.
"Quando pisei no aeroporto em Madri, encontrei com o agente, que me levou para um hotel. Depois, esperei dias por um telefonema, mas nada. Fiquei com a conta do hotel, com a dívida da passagem e sem emprego", diz o paranaense W.S., 23, que se prepara para voltar para o Brasil.
Após a frustração, os brasileiros buscam ajuda entre conterrâneos que estão há mais tempo no país.
"Ajudamos as pessoas a conseguir emprego ou recolhemos dinheiro para que voltem para o Brasil. Vi muitos passarem fome, dormirem na rua e chorarem de raiva", afirma Audreis da Silva, que há oito anos mora em Madri.

Agentes
Para fugir da polícia, os agentes brasileiros mudam constantemente de país, mas nunca perdem os contatos com as falsas agências de turismo no Brasil.
O agente mais conhecido na Espanha é o paranaense Marcos Terra, 30. Há nove meses, ele foi detido pela polícia após ser acusado de tráfico de mão-de-obra. O processo está aberto, mas Terra fugiu para a Inglaterra. Na época, ele negou as acusações e disse ser vítima de desavenças pessoais.
Mesmo foragido, Terra continua operando. Em dois meses, teria levado 11 jovens para Londres.
Em Madri, esperava os brasileiros no aeroporto e os encaminhava a um hotel. Se comportava como anfitrião até o restante do pagamento ser feito. Depois, sumia.



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