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SAÚDE
Diagnosticar câncer infantil ainda é difícil
RENATA DE GÁSPARI VALDEJÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Departamento de Pediatria
do Hospital do Câncer, em São
Paulo, declarou guerra à demora
no diagnóstico da doença em
crianças. Uma das batalhas é
conscientizar pais e médicos sobre a importância de prestar atenção às queixas infantis, pois os
sintomas são muito inespecíficos
(veja quadro nesta página).
As oncologistas pediátricas Karla Rodrigues, 30, e Beatriz de Camargo, 48, autoras de pesquisa
sobre o assunto, detectaram a
ocorrência da demora na primeira das três fases do estudo, que
analisa dados a partir de 1975.
Também constataram que o espaço de tempo entre o aparecimento do primeiro sintoma e o
diagnóstico é maior no Brasil que
na Inglaterra, na Suécia e nos Estados Unidos (uma diferença que
vai de nove a 22 semanas, dependendo do tipo da doença).
Agora, elas querem determinar
com exatidão quais as principais
falhas que levam a essa demora,
para poder combatê-las. "O que
causa o atraso? É o sistema de saúde? É falta de informação dos
pais? É medo de fazer o diagnóstico de câncer?", indaga Beatriz.
Por enquanto, uma das conclusões mais significativas é que existe no Brasil uma cultura de não-valorização da dor, ilustrada tanto
pelo fenômeno da automedicação
quanto pela tendência dos pais e
dos médicos de considerar as
queixas das crianças como manha. "Não é para sair achando que
tudo é câncer, mas é necessário
valorizar a queixa", diz Beatriz.
Para exemplificar, a pesquisa
compara dados do Brasil e da
Suécia, mostrando que os suecos
portadores de tumor reclamam
mais de dor (veja quadro). "Será
que nós sentimos menos dor no
Brasil ou não damos valor a ela?",
afirma Beatriz.
Diagnóstico
O trabalho começou com uma
investigação dos prontuários do
hospital de 1975 a 1990. Nesse período, segundo as médicas, a média de atraso no diagnóstico caiu
de oito para cinco meses.
Os dados da segunda fase, de
1990 a 2000 (quando os prontuários ficaram mais detalhados), estão sendo tabulados, mas as projeções são de que o número mantenha o declive.
"Na primeira pesquisa, concluímos que a família era o maior motivo de atraso na constatação do
problema, por falta de conhecimento", diz Beatriz.
"Isso está mudando e a tendência hoje, com as novas técnicas de
tratamento e o maior acesso à informação, é cada vez mais a demora se restringir aos casos em
que a doença tem difícil detecção", afirma ela.
Nos anos 70, de 15% a 20% dos
doentes eram curados; hoje o índice médio de cura é de 80%. Para
as autoras da pesquisa, isso pode
ter incentivado as pessoas a procurar o diagnóstico mais cedo.
Na terceira etapa do estudo (junho de 2000 a junho de 2002), os
pais das 300 crianças que dão entrada por ano no hospital serão
entrevistados pessoalmente, para
aumentar o nível de detalhamento da investigação.
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