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TRANSPLANTES
Ministério da Saúde vai assegurar, com medida provisória, direito de manifestação da família do doador
Governo desiste de doação presumida
VANESSA HAIGH
da Sucursal de Brasília
O Ministério da Saúde quer acabar com a doação presumida de
órgãos, aquela em que todo brasileiro é considerado doador a menos que manifeste vontade contrária em documento.
O ministério vai acrescentar, por
meio de medida provisória, um
parágrafo à Lei de Transplantes
assegurando o direito de manifestação da família do paciente que
sofreu morte cerebral e poderia
doar os órgãos.
"É uma doação presumida mais
suave", disse o ministro da Saúde,
José Serra.
Originalmente, a lei previa que
se a pessoa não manifestasse em
vida o desejo de não doar seus órgãos seria automaticamente considerada doadora.
Mas segundo Serra, a consulta à
família foi sugerida pelo CFM
(Conselho Federal de Medicina)
na época da implantação da lei, há
um ano e meio, e desde então vem
sendo seguida.
"Apenas vai se fazer na lei algo
que já está ocorrendo na prática,
que é a consulta às famílias para
não caber nenhuma dúvida a respeito", disse Serra.
Confusão
O texto da MP, que deve ser editada em uma semana, ainda não
detalha o que acontece se a família
do possível doador não for encontrada. Em meio à uma entrevista
conturbada, o secretário de Assistência à Saúde, Renilson Rehem,
confundiu-se e chegou a afirmar
que, se a pessoa não tivesse manifestado em vida o desejo de ser
doadora, os órgãos não poderiam
ser retirados, o que representaria
um recuo em relação à lei.
Depois da entrevista, o ministério comunicou que sua posição
oficial é a de respeitar a vontade
manifestada pelo paciente em vida, que pode registrar na carteira
de identidade ou de habilitação o
desejo de ser ou não doador de órgãos.
Seguindo a prática que vem sendo adotada, espera-se que os médicos comuniquem à família que
os órgãos serão retirados. Caso
não haja nenhuma manifestação
registrada, a família é consultada e
a sua vontade será acatada. Se ela
se abstiver, o paciente será considerado doador.
A mudança na lei foi sugerida
depois que foi constatada a diminuição da oferta de órgãos depois
da implantação da Lei de Transplantes. "A lei até agora teve um
baixo efeito na oferta de órgãos",
disse Serra.
Lista única
A portaria com o regulamento
técnico sobre o funcionamento do
Sistema Nacional de Transplantes
foi assinada ontem. Segundo Rehem, a previsão é que até o final do
ano o país já terá conseguido organizar a lista única de pacientes
aguardando órgãos. Há 12 centrais
estaduais implantadas e quatro
em fase de implantação.
Os candidatos a receptores deverão se inscrever nas Centrais de
Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos, que serão criadas
pelas secretarias estaduais da Saúde.
Só poderão criar listas os Estados que possuírem hospitais e
equipes técnicas autorizadas a realizar transplantes. Os candidatos a
transplante que vivem em Estados
que não realizam transplantes deverão se inscrever no Estados mais
próximo que tiver lista.
Serra anunciou ontem que o
SUS (Sistema Único de Saúde) receberá recursos específicos para
possibilitar a realização de transplantes, como por exemplo a manutenção em UTI de pacientes
com morte cerebral para manter
os órgãos aptos para o transplante.
O ministro também anunciou a
criação de uma Câmara de Compensação de Alta Complexidade
Hospitalar. Trata-se de um fundo
de R$ 50 milhões que será usado
para que pacientes de um Estado
possam ser atendidos em outro
sem que o custo recaia sobre o Estado que está fornecendo o atendimento.
(Colaborou Daniela Falcão, da Sucursal
de Brasília)
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