São Paulo, terça-feira, 05 de setembro de 2000


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Namorada de vítima atua em ONGs

Jayme de Carvalho Júnior/Folha Imagem
Isabel Perez mostra na tela foto de seu namorado, assassinado


DA REPORTAGEM LOCAL

"Passei um ano com ódio e era a maior defensora da pena de morte. Hoje, sou radicalmente contra, inclusive contra a lei dos crimes hediondos."
A declaração é da analista de sistema Isabel Torrente Perez, 35, que viu o namorado, também analista Julian Gobi, 23, ser assassinado no calçadão da Praia Grande, há dois anos.
"Pediram o relógio dele e atiram pelas costas", conta ela. "Na época, eu queria matar todo mundo, mas acabei virando voluntária numa favela", diz a analista.
"Vi crianças sem amor próprio, sem poder ir à escola porque não tinham sapato ou dinheiro para comprar lápis e borracha. A vida deles não vale nada e, para eles, a nossa também não."
Hoje, Isabel atua em duas ONGs de direitos humanos e milita pela melhoria das cadeias.
"Não é apodrecendo na prisão que a pessoa vai melhorar. Sou contra a pena de morte, prisão perpétua e essa lei (dos hediondos) de 30 anos de prisão", diz. "Essas pessoas têm que pagar por seus crimes, mas num sistema que reeduque de verdade e mostre que elas não são lixo."
A professora Leila Lagatta de Souza, 37, mãe de Ariel de Souza -um dos três rapazes mortos em uma casa em Mongaguá, na Páscoa-, não concorda com ela.
"Lamento profundamente que os acusados não tenham sido linchados", disse Leila.
Para ela, a Lei dos Crimes Hediondos não resolveu o problema devido à impunidade. "Pode apertar quanto quiser as penas. Os bandidos não têm medo porque sabem que não vai acontecer nada. Nossa Justiça é lenta e ineficaz." "A pena de morte talvez intimidasse", completou.
"A pena de morte não resolve nada. Depois que perdi meu irmão, vi que não adiantaria porque ele não iria voltar", conta a professora Claudia Moll, irmã de Jürgen Moll, casado e pai de duas meninas -de 5 e 10 anos-, assaltado e assassinado no carro ao sair do banco, em março.


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