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Drogas não causam doença, mas
potencializam o surto psicótico
PRISCILA LAMBERT
da Reportagem Local
O uso de drogas
excitantes, como a
cocaína e o crack,
não provoca o aparecimento de doenças mentais, mas
pode potencializar, e muito, o distúrbio de personalidade de uma
pessoa já doente.
No caso do estudante Mateus da
Costa Meira, que, segundo seu
psiquiatra, José Cássio Nascimento Pitta, já possuía um distúrbio
persecutório -um quadro de esquizofrenia em que a pessoa tem
mania de perseguição-, o consumo dessas drogas pode ter
agravado o quadro, tornando os
surtos psicóticos mais frequentes
e mais violentos.
De acordo com o psiquiatra
Dartiu Xavier da Silveira, diretor
do Proad (Programa de Orientação e Assistência a Dependentes),
as drogas, com exceção do álcool,
não causam sozinhas comportamentos violentos, mas podem desencadear quadros que estavam
latentes. "Não só as drogas, mas o
álcool e uma situação de estresse
podem ser fatores agravantes."
A cocaína e o crack levam o
usuário a uma sensação de grandeza, euforia, irritabilidade e tremores, num quadro conhecido
como psicose cocaínica.
Os usuários podem sentir o que
entre eles é conhecido como
"nóia" (de paranóia), quando
apresentam praticamente um
ataque de pânico, trancam portas
e janelas e ouvem passos.
Há duas possibilidades. O paciente que já apresentou um distúrbio prévio, sob efeito da droga
pode ter um surto mais forte.
Mas, mesmo que não esteja sob
efeito da droga, o uso frequente
dessas substâncias pode tornar os
delírios mais frequentes e mais sérios.
Delírios
O distúrbio persecutório é uma
das características de um paciente
psicótico (que perdeu o contato
com a realidade). A pessoa pode
ter apenas o distúrbio da perseguição, como apresentar delírios
auditivos e táteis.
O paciente cria uma fantasia
-pensa que está ouvindo vozes
ou que alguém o está perseguindo- e acredita no que sente.
"Durante os surtos, pode chegar
ao extremo de planejar atos violentos conscientemente, mas, depois, quando o surto acaba, normalmente se arrepende", diz Arthur Guerra de Andrade, coordenador do Grea (Grupo de Estudo
de Álcool e Drogas), do Hospital
das Clínicas de São Paulo.
A doença se desenvolve em surtos e geralmente se manifesta na
adolescência.
A decisão de manter um psicótico internado é uma questão
complicada. "Se a família tem
condições de acompanhá-lo de
perto não recomendamos a internação, mas um tratamento psiquiátrico intenso", diz o psiquiatra Mauro Mercadante.
Os pacientes atualmente são
tratados com drogas antipsicóticas muito eficazes, que agem no
sistema nervoso central. A medicação é muito forte e, por isso, deve ser ministrada apenas durante
os surtos. Fora esses períodos, são
utilizadas medicações mais leves.
Meira estava tomando um antipsicótico, mas suspendeu o tratamento por conta própria, o que,
segundo médicos, pode ter facilitado o surto.
Alguns estudos científicos mostram que há maior incidência
dessa doença em pessoas que têm
antecedente familiar.
Também estão em andamento
pesquisas que apontam uma alteração bioquímica no cérebro dos
portadores de distúrbios de personalidade.
Fatores emocionais, como os
cuidados na primeira infância, o
relacionamento afetivo entre mãe
e filho e ambientes familiares desequilibrados são considerados
fatores agravantes para pessoas
predispostas.
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