São Paulo, Sexta-feira, 05 de Novembro de 1999
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Meira deixou de tomar remédio antipsicótico, diz psiquiatra

da Reportagem Local

O psiquiatra José Cássio do Nascimento Pitta, que tratava há cerca de um mês o estudante de medicina Mateus da Costa Meira, 25, que metralhou a platéia que assistia o filme "Clube da Luta", no MorumbiShopping, disse ontem que o seu cliente parou de tomar, sem consultá-lo, um medicamento antipsicótico.
No depoimento de Meira, segundo Pitta, o estudante contou que parou de tomar o remédio Ziplex, no dia 28, um dia após o pai deixar São Paulo. A ausência da droga pode ter influenciado o crime, na opinião do psiquiatra.
O medicamento foi receitado após Meira passar dez dias internados na clínica psiquiátrica Padre Julieta, após diagnóstico feito por uma colega de Pitta, que cuidou do caso durante uma semana de outubro, quando o psiquiatra participou de um congresso.
"Ela (a colega, cujo nome Pitta não revelou) avaliou que era difícil o tratamento domiciliar porque estava predominando um quadro de agitação psíquica", disse o psiquiatra.
No dia 17, o psiquiatra retornou do congresso e avaliou Meira. "Ele não apresentava mais alterações marcantes e, após consultar o pai dele, Deolino Vanderley Meira, médico oftalmologista, analisamos que ele tinha condições de alta, o que ocorreu no dia 20", disse.
Ficou combinado, segundo o psiquiatra, que o tratamento e acompanhamento de Meira deveria continuar em seu consultório.
"Ele estava iniciando o último estágio da faculdade e tinha uma prova pendente. Então eu sugeri, solicitei, que o pai o acompanhasse, que o pai não fosse embora e acompanhasse o tratamento por pelo menos mais um mês aqui em São Paulo", afirmou o médico ontem na 2ª Delegacia Seccional, onde havia acompanhado o depoimento de Meira durante a madrugada.
Ontem, segundo Pitta, às 11h30, o psiquiatra deveria encontrar Meira, mas por outro motivo. O estudante iria retornar para mais uma consulta.
Segundo o Pitta, após a alta, Meira retomou sua atividade acadêmica e foi aprovado na prova pendente.
A última consulta que o estudante teve com Pitta foi no último dia 27, ainda acompanhado pelo pai, cuja presença seria importante, segundo o psiquiatra, para acompanhar a dosagem dos medicamentos e se a prescrição médica estava sendo cumprida.
"Naquele dia, ele não tinha nenhum indício de que cometeria uma atitude dessa gravidade", disse o psiquiatra, que não afirmou não se sentir responsável também pelo crime, por ter dado alta à Meira.
"O pai comentou que ia para Salvador para resolver uns problemas do consultório porque achava que o filho estava bem, mas pedi para que ele retornasse o mais rápido possível", disse o psiquiatra.
Pitta afirmou também que o cliente tinha "alterações significativas no desenvolvimento da personalidade", mas, por questões éticas, não revelou o diagnóstico que fez do estudante.
O pai de Meira só voltou à São Paulo na manhã de quinta-feira, após ser avisado do crime cometido pelo filho.


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