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Já quiseram proibir "Chapeuzinho
Vermelho" por ser violento demais
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
A estréia do "serial killer" na vida real brasileira já deflagrou, inevitavelmente, o debate sobre a
responsabilidade do conteúdo
violento dos meios de comunicação por esse tipo de personagem.
Como acontece nos EUA a cada
massacre, no Brasil vão chover
acusações contra programas de
TV e filmes como "Clube da Luta", que vítimas e criminoso assistiam quando a tragédia ocorreu.
Faz décadas que as ciências sociais tentam demonstrar, sem sucesso, que a ficção violenta provoca comportamento violento. Ainda assim, o oportunismo político
e o comodismo social continuam
a acusar a TV e o cinema por desgraças como a provocada por
Meira. Não será diferente agora.
Os produtores do lixo que inunda as telas (de cinema, TV e computadores) são culpados. De mau
gosto, insensibilidade, exploração
da pobreza cultural em que o
mundo do consumo está afogado.
Mas não dos crimes que suas vítimas cometem. Algumas fitas ou
programas podem até sugerir
idéias depois utilizadas por seus
fãs. O que os move a matar, no entanto, são outras causas, muito
mais profundas. E se eles não tivessem acesso tão simples e irrestrito a armas não teriam os instrumentos para agir com eficiência.
Os meios de comunicação contribuem para o envenenamento
da alma e o empobrecimento do
espírito. Mas há um conjunto de
fatores que atuam na criação dos
monstruosos assassinos em série.
Desde características genéticas
até o fracasso de pais e escolas, há
elementos mais importantes do
que a ficção para explicar o fenômeno. É mais fácil transformar
TV e cinema em bodes expiatórios do que praticar o doloroso
auto-exame sobre como este final
de século trata seus filhos, especialmente os do sexo masculino.
Os meninos são incentivados à
violência desde a infância. Aprendem que homem brinca de bater,
fala palavrão, gosta de esportes
brutos. Ao mesmo tempo, vivem
mais distantes dos pais, isolados
de afeto. Na classe média alta, nas
mãos de creches, babás e em frente da TV e dos computadores.
Crianças seguras, amadas, bem-assistidas por adultos dificilmente
são capazes de atos de extrema
violência, mesmo assistindo muita ficção violenta (o que provavelmente não fazem porque pais e
mestres lhes proporcionam alternativas saudáveis de diversão).
Mas esse tipo de dúvida é dura
demais para a sociedade se colocar de frente. É menos complicado acusar os meios de comunicação e chamar a censura.
A censura é sempre um perigo.
Ela pode ser bem intencionada,
mas é sempre aplicada por pessoas que podem errar. Já houve
quem quisesse proibir a história
de "Chapeuzinho Vermelho" por
considerá-la violenta demais.
A sociedade brasileira deve se
cuidar para não repetir aqui o festival de mortandades a que os
EUA se acostumaram. Para isso,
deve impedir a comercialização
de armas, melhorar suas escolas,
discutir o desempenho de seus
pais, estimular a boa cultura e
nunca apelar para a censura.
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