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Transição na saúde deve ser demorada
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A transição na área da saúde será a mais demorada, a mais delicada e possivelmente a mais conturbada de todo o processo de
instalação petista. O fim já anunciado das cooperativas do PAS
-hoje Sistema Integrado Municipal de Saúde- implicará o remanejamento de cerca de 20 mil
funcionários e a investigação de
uma máquina que até agora não
prestava contas a ninguém.
Oficialmente, tanto o atual comando da Secretaria da Saúde como os diretores das cooperativas
prometem transparência e colaboração no processo de passagem. Na prática, vereadores petistas temem que documentos sejam
destruídos -o que inviabilizaria
as investigações- e que equipamentos públicos já estejam sendo
desviados ou sucateados.
Os vereadores Adriano Diogo e
Carlos Neder entraram com representação no Ministério Público solicitando que promotores
acompanhem desde já todo o
processo de passagem.
"Corremos o risco de um colapso na saúde", disse Diogo. "Se o
processo não for feito com cuidado e critério, o atendimento poderá ser prejudicado e a culpa será
atribuída à nova administração."
Carlos Neder compara a transição, o fim do PAS e a retomada da
administração direta a uma operação de troca de pneu com o carro em movimento. O risco de acidente é altíssimo.
"A saúde foi a área mais desfigurada em relação às políticas públicas", diz Marco Manfredini, chefe
de gabinete de Neder.
Ao implantar o PAS, em janeiro
de 1996, o então prefeito Paulo
Maluf retirou de suas funções cerca de 15 mil funcionários e perdeu
o direito aos recursos do SUS, o
Sistema Único de Saúde. O governo entendeu que o PAS, que funciona como cooperativa, era um
programa privado e suspendeu os
pagamentos. Com isso, a cidade
perdeu R$ 200 milhões por ano,
além dos R$ 40 milhões que paga
por mês às cooperativas.
Pelo regime adotado, as cooperativas nunca prestaram contas à
Câmara Municipal nem ao Tribunal de Contas do Município. A lei
federal de licitações nunca foi
cumprida. Não se sabe ao certo
quanto as cooperativas devem a
fornecedores nem quanto acumularam de dívidas trabalhistas.
Também não se conhece quanto
devem receber da prefeitura.
"Os diretores do PAS agiam como se nunca tivessem de prestar
contas", diz Adriano Diogo. "Alguns chegavam a retirar R$ 40 mil
por mês, outros transformaram
clínicas públicas em clínicas privadas. Muitos documentos estão
sendo queimados para dificultar
as investigações, mas agora os responsáveis terão que prestar contas à nova administração e ao
SUS. Terão que explicar os desvios e as mortes ocorridas por falhas do sistema."
O médico Márcio Joel Estevam,
diretor do módulo sul, de Campo
Limpo, diz que a cidade viverá um
período de transição, mas acredita que não haverá prejuízos à população. "A prioridade é o atendimento", disse.
O secretário Carlos Alberto Vellucci já informou que o processo
de transição será iniciado assim
que a nova administração indicar
o nome de seu sucessor.
Das 142 unidades de saúde da
cidade, 100 continuam nas mãos
das cooperativas. As outras já estão com a administração direta. A
passagem mais complexa e temida é a dos 15 hospitais que continuam com as cooperativas. Cerca
de 60% dos profissionais -incluindo médicos- não são funcionários públicos.
Marco Manfredini acredita que
a nova administração terá de fazer
contratações de emergência por
seis meses, renováveis por outros
seis, enquanto realiza concursos.
"O processo todo só vai ser concluído no final de 2001", acredita.
O remanejamento de funcionários deve tomar um ano.
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