São Paulo, terça-feira, 05 de novembro de 2002

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HABITAÇÃO

Propriedades privadas, edifícios foram tomados durante processo de negociação de venda à administração municipal

Sem-teto invadem prédios no centro de SP

Rafhael Falavigna/Folha Imagem
Sem-teto em prédio invadido ontem, na rua Brigadeiro Tobias, onde não há água, luz ou banheiro


DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de mil integrantes do Movimento Sem-Teto do Centro (MSTC) invadiram, no início da madrugada de ontem, dois prédios na região central da cidade. Um deles, na rua Brigadeiro Tobias. O outro, na avenida Prestes Maia. Juntos, os edifícios têm 33 andares, que as famílias já começaram a dividir entre si.
Sem luz, água, banheiro e comida, os invasores -entre eles famílias inteiras, idosos e crianças- afirmam que pretendem continuar no local até que haja uma solução para o problema.
Desocupados há aproximadamente 15 anos, os prédios pertencem aos empresários Fauzi Nacle Hamuche, 48, e Augusto Amorim, 27, e foram invadidos justamente durante o processo de negociação de venda dos edifícios à administração municipal.
Há mais de um ano, proprietários e prefeitura vinham negociando a compra dos imóveis, cuja dívida com IPTUs atrasados chega aos R$ 2,5 milhões, segundo a Secretaria Municipal da Habitação (Sehab). Já os proprietários falam em R$ 1,2 milhão. Os sem-teto dizem que os valores passam de R$ 3 milhões e que o prédio valeria -mesmo depredado e abandonado- cerca de R$ 3,5 milhões.
As negociações não avançaram, segundo a prefeitura, porque não teria havido acordo entre os proprietários dos prédios. Na semana passada, um deles teria recusado uma oferta feita pela prefeitura, segundo a Folha apurou. Hoje, as duas partes devem se reunir novamente para discutir o assunto. Uma lei sancionada pela prefeita Marta Suplicy (PT) em 2001 permite a quitação de dívidas através da entrega de imóveis ao governo.
Além disso, a Secretaria da Habitação também afirma que o MSTC não teria feito nenhuma solicitação específica para esses prédios e alega que o movimento já foi atendido em outras reivindicações. Já a coordenação do MSTC desmente a prefeitura e afirma que as negociações desses dois prédios já acontecem "há mais de dois anos."
Com as invasões de ontem, já são pelo menos nove ocupações na região central, segundo movimentos de moradia que atuam em toda cidade.
As histórias das famílias que ocuparam os prédios são praticamente as mesmas. Na maioria, os membros estão desempregados e a renda mensal é inferior a R$ 200, o que as impossibilita de pagar aluguel. Sem alternativas, elas recorrem aos movimentos de moradia em busca da casa própria.
"Vamos ficar até que haja uma solução. É melhor aqui do que na rua", afirmou Laura Ferreira, 22, desempregada há dois anos.


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