São Paulo, terça-feira, 05 de dezembro de 2006

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O IMPROVISADOR
Esperei uns bons minutos, entrei no carro e comecei a viver a santa agonia paulistana

PASQUALE CIPRO NETO
COLUNISTA DA FOLHA

Na segunda-feira passada, saí da casa da minha mãe, onde almocei, por volta das 13h45min e levei o temporal comigo. Sim, a chuva foi me seguindo, da Aclimação à Água Branca. Faltava pouco para chegar, e o chão da Pompéia estava seco, mas, antes de entrar na Ermano Marchetti... Cheguei ao estacionamento da Rádio e TV Cultura por volta das 14h30min, porém o temporal só me deixou sair do carro cerca de 40 minutos depois. Assim que a chuva diminuiu um pouco, fui para o estúdio, mas o guarda-chuva não me impediu de chegar lá ensopado.
Ontem ocorreu o contrário. Depois de gravar, precisei esperar uns bons minutos para ir ao estacionamento, entrar no carro e... E começar a viver a santa agonia paulistana. Só para entrar na malsinada marginal do Tietê e nela percorrer alguns metros gastei mais de meia hora. Resolvi pegar o atalho (inundado) que leva a uma das rotatórias da av. Marquês de São Vicente -aquela de onde sai o acesso à ponte que desemboca na av. Pompéia. Surpresa: o trânsito fluía na Marquês!
Resolvi seguir por ela (o rádio acabara de informar que, no cruzamento com a Turiaçu, a Pompéia estava alagada). Depois, entrei na ponte que desemboca na Sumaré, contornei o West Plaza, peguei a Francisco Matarazzo e... gargalo. Mais agonia -e alguns canalhas, ou melhor, alguns motoristas de carros grandes (superpicapes e afins) querendo decretar a falência das elementares leis da física (dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço) e da civilidade.
Nessas horas, em São Paulo, a pior bobagem é engrossar filas. Para que conheço esta cidade quase como a palma da mão? Saí da avenida. Peguei a primeira à direita e me embrenhei nas ruas (livres) de Perdizes até chegar à General Olímpio da Silveira. Nova surpresa! Trânsito livre!
Dali para o Tatuapé o trânsito fluiu inacreditavelmente. E o rádio continuava a informar que havia 19 pontos (intransitáveis) de alagamento, que a avenida X, a Y e a Z estavam totalmente paradas etc. Além de tudo, São Paulo é um mistério.
São, São Paulo, amo-te com todo o ódio, odeio-te com todo o amor; com todos os defeitos (que tens), carrego-te no peito, São, São Paulo, meu amor. Até a próxima chuva, o próximo caos, o próximo momento em que tudo fica por um fio.


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