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O IMPROVISADOR
Esperei uns bons minutos, entrei no carro e comecei a viver a santa agonia paulistana
PASQUALE CIPRO NETO
COLUNISTA DA FOLHA
Na segunda-feira passada, saí
da casa da minha mãe, onde almocei, por volta das 13h45min
e levei o temporal comigo. Sim,
a chuva foi me seguindo, da
Aclimação à Água Branca. Faltava pouco para chegar, e o
chão da Pompéia estava seco,
mas, antes de entrar na Ermano Marchetti... Cheguei ao estacionamento da Rádio e TV
Cultura por volta das
14h30min, porém o temporal
só me deixou sair do carro cerca de 40 minutos depois. Assim
que a chuva diminuiu um pouco, fui para o estúdio, mas o
guarda-chuva não me impediu
de chegar lá ensopado.
Ontem ocorreu o contrário.
Depois de gravar, precisei esperar uns bons minutos para ir ao
estacionamento, entrar no carro e... E começar a viver a santa
agonia paulistana. Só para entrar na malsinada marginal do
Tietê e nela percorrer alguns
metros gastei mais de meia hora. Resolvi pegar o atalho
(inundado) que leva a uma das
rotatórias da av. Marquês de
São Vicente -aquela de onde
sai o acesso à ponte que desemboca na av. Pompéia. Surpresa:
o trânsito fluía na Marquês!
Resolvi seguir por ela (o rádio
acabara de informar que, no
cruzamento com a Turiaçu, a
Pompéia estava alagada). Depois, entrei na ponte que desemboca na Sumaré, contornei
o West Plaza, peguei a Francisco Matarazzo e... gargalo. Mais
agonia -e alguns canalhas, ou
melhor, alguns motoristas de
carros grandes (superpicapes e
afins) querendo decretar a falência das elementares leis da
física (dois corpos não podem
ocupar o mesmo lugar no espaço) e da civilidade.
Nessas horas, em São Paulo, a
pior bobagem é engrossar filas.
Para que conheço esta cidade
quase como a palma da mão?
Saí da avenida. Peguei a primeira à direita e me embrenhei nas
ruas (livres) de Perdizes até
chegar à General Olímpio da
Silveira. Nova surpresa! Trânsito livre!
Dali para o Tatuapé o trânsito fluiu inacreditavelmente. E o
rádio continuava a informar
que havia 19 pontos (intransitáveis) de alagamento, que a
avenida X, a Y e a Z estavam totalmente paradas etc. Além de
tudo, São Paulo é um mistério.
São, São Paulo, amo-te com
todo o ódio, odeio-te com todo
o amor; com todos os defeitos
(que tens), carrego-te no peito,
São, São Paulo, meu amor. Até a
próxima chuva, o próximo caos,
o próximo momento em que
tudo fica por um fio.
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