São Paulo, terça-feira, 05 de dezembro de 2006

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Justiça mantém dirigentes de ONGs presos

Líderes de organizações que apoiavam doentes de câncer são suspeitos de desviar dinheiro de doações

DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
DA AGÊNCIA FOLHA

Quatro dirigentes do GAPC (Grupo de Apoio a Pessoas com Câncer) e da Abrapec (Associação Brasileira de Apoio a Pessoas com Câncer) suspeitos de desviar dinheiro de doações vão continuar presos por tempo indeterminado. O juiz da Vara de Inquéritos Policiais de Curitiba acatou o pedido da polícia paranaense, mudando a prisão dos quatro de temporária para preventiva.
Segundo o delegado Marcus Vinícius Michelotto, que chefia a investigação, dos 16 integrantes das ONGs presos em novembro, os únicos que desviavam dinheiro para enriquecimento próprio são Arnaldo Braz, Waldemar Braz, Ada de Souza Mendes e João César Chiquetto. Os outros 12 foram liberados na semana passada.
Segundo o delegado, os quatro ainda presos são "réus confessos do desvio de doações".
Michelotto disse ter reunido provas de que Arnaldo Braz, dirigente das ONGs, investiu em 2005 R$ 2,7 milhões na compra de imóveis e carros. Sua aposentadoria é de R$ 1.200 por mês. ""O enriquecimento ilícito é evidente", disse.
A polícia estima em R$ 30 milhões o montante de doações desviadas só em 2005. As ONGs prestavam serviços a doentes, como doação de cestas básicas e remédios, mas isso representava 10% do que era arrecadado, segundo a polícia.
O grupo responde por suspeita de peculato, formação de quadrilha e enriquecimento ilícito. O delegado afirmou que pretende encerrar o inquérito e mandar à Justiça até amanhã.

Outro lado
Carlos Brickmann, assessor de imprensa da Abrapec e do GAPC, disse que não há acusação formal até o momento. "Só acredito vendo, se ele [Michelotto] mostrar a confissão assinada ou divulgar uma nota oficial dizendo isso."
"Conheço muita gente que já confessou e sabe-se lá por quê. Primeiro, quero ver se é verdade. Segundo, até que eles sejam condenados eles são inocentes. Desculpe-me o delegado."
Preocupada com o fechamento de unidades, a paralisação de atendimentos e a queda na arrecadação, a GAPC tenta motivar funcionários a não abandonar a entidade.

Situação
Uma circular interna -à qual a Folha teve acesso- com regras sobre como abordar doadores foi distribuída ontem a funcionários da sede, em São José dos Campos (SP).
São 28 unidades do GAPC, em nove Estados.
O plano é decorrente das dificuldades enfrentadas pelo GAPC nos últimos dez dias, após a prisão dos dirigentes.
Em Blumenau (SC), a unidade do GAPC fechou. Na semana passada, os 25 funcionários pediram demissão. As atividades também foram paralisadas em outras unidades. É o caso de Volta Redonda (RJ). "Sabemos que nada foi comprovado ainda, mas está tudo parado", afirmou a assistente social responsável pela unidade, Ana Claudia Squarcini. Segundo ela, o GAPC de Petrópolis (RJ) também foi fechado.
Desde as prisões, o dinheiro das doações deixou de ser repassado e doadores suspenderam contribuições.
Ontem, cerca de cem funcionários, entre motoboys e operadores de telemarketing, participaram de uma reunião em São José dos Campos. Receberam a garantia de que os salários serão pagos e foram orientados a retomar o trabalho seguindo as regras da circular para convencer doadores.
(MARI TORTATO, FÁBIO AMATO e THIAGO REIS)


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