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Justiça mantém dirigentes de ONGs presos
Líderes de organizações que apoiavam doentes de câncer são suspeitos de desviar dinheiro de doações
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ
DOS CAMPOS
DA AGÊNCIA FOLHA
Quatro dirigentes do GAPC
(Grupo de Apoio a Pessoas com
Câncer) e da Abrapec (Associação Brasileira de Apoio a Pessoas com Câncer) suspeitos de
desviar dinheiro de doações
vão continuar presos por tempo indeterminado. O juiz da
Vara de Inquéritos Policiais de
Curitiba acatou o pedido da polícia paranaense, mudando a
prisão dos quatro de temporária para preventiva.
Segundo o delegado Marcus
Vinícius Michelotto, que chefia
a investigação, dos 16 integrantes das ONGs presos em novembro, os únicos que desviavam dinheiro para enriquecimento próprio são Arnaldo
Braz, Waldemar Braz, Ada de
Souza Mendes e João César
Chiquetto. Os outros 12 foram
liberados na semana passada.
Segundo o delegado, os quatro ainda presos são "réus confessos do desvio de doações".
Michelotto disse ter reunido
provas de que Arnaldo Braz, dirigente das ONGs, investiu em
2005 R$ 2,7 milhões na compra
de imóveis e carros. Sua aposentadoria é de R$ 1.200 por
mês. ""O enriquecimento ilícito
é evidente", disse.
A polícia estima em R$ 30
milhões o montante de doações
desviadas só em 2005. As
ONGs prestavam serviços a
doentes, como doação de cestas
básicas e remédios, mas isso representava 10% do que era arrecadado, segundo a polícia.
O grupo responde por suspeita de peculato, formação de
quadrilha e enriquecimento ilícito. O delegado afirmou que
pretende encerrar o inquérito e
mandar à Justiça até amanhã.
Outro lado
Carlos Brickmann, assessor
de imprensa da Abrapec e do
GAPC, disse que não há acusação formal até o momento. "Só
acredito vendo, se ele [Michelotto] mostrar a confissão assinada ou divulgar uma nota oficial dizendo isso."
"Conheço muita gente que já
confessou e sabe-se lá por quê.
Primeiro, quero ver se é verdade. Segundo, até que eles sejam
condenados eles são inocentes.
Desculpe-me o delegado."
Preocupada com o fechamento de unidades, a paralisação de atendimentos e a queda
na arrecadação, a GAPC tenta
motivar funcionários a não
abandonar a entidade.
Situação
Uma circular interna -à qual
a Folha teve acesso- com regras sobre como abordar doadores foi distribuída ontem a
funcionários da sede, em São
José dos Campos (SP).
São 28 unidades do GAPC,
em nove Estados.
O plano é decorrente das dificuldades enfrentadas pelo
GAPC nos últimos dez dias,
após a prisão dos dirigentes.
Em Blumenau (SC), a unidade do GAPC fechou. Na semana
passada, os 25 funcionários pediram demissão. As atividades
também foram paralisadas em
outras unidades. É o caso de
Volta Redonda (RJ). "Sabemos
que nada foi comprovado ainda, mas está tudo parado", afirmou a assistente social responsável pela unidade, Ana Claudia Squarcini. Segundo ela, o
GAPC de Petrópolis (RJ) também foi fechado.
Desde as prisões, o dinheiro
das doações deixou de ser repassado e doadores suspenderam contribuições.
Ontem, cerca de cem funcionários, entre motoboys e operadores de telemarketing, participaram de uma reunião em
São José dos Campos. Receberam a garantia de que os salários serão pagos e foram orientados a retomar o trabalho seguindo as regras da circular para convencer doadores.
(MARI TORTATO, FÁBIO AMATO e THIAGO REIS)
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