São Paulo, sábado, 5 de dezembro de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice PROTESTO Barraca seria construída para proteger os manifestantes; ontem 24 continuavam o protesto em São Paulo Camelôs querem fazer abrigo para grevistas
FABIO SCHIVARTCHE da Reportagem Local Os 24 camelôs que estão acorrentados e em greve de fome desde a manhã de terça-feira querem construir hoje um abrigo de madeira e lona na calçada do largo da Concórdia, no Brás (região central da cidade de São Paulo), onde protestam contra a proibição de trabalhar nas ruas. "O abrigo nos protegeria da chuva e do vento frio da noite. Mas, como não temos dinheiro, vamos pedir o material para comerciantes do bairro", diz o ambulante Afonso José da Silva, 29, que coordena a manifestação. O abrigo ocuparia a maior parte da calçada e uma faixa da rua (já interditada pela prefeitura), onde os camelôs passam o dia e a noite. "No mínimo, a área ocupada seria de quatro metros de largura por quinze de comprimento", diz Silva. Ontem à tarde, os ambulantes improvisaram com pedaços de lona de caminhão e guarda-sóis uma cobertura para se proteger da chuva. Mas o piso da calçada, forrado com papelão, ficou encharcado, molhando os camelôs -que, cansados, deitam sobre a calçada. Até o fechamento desta edição, 24 dos 37 camelôs que iniciaram o protesto permaneciam acorrentados e em greve de fome, segundo contagem da Folha. Um outro estava recebendo soro no hospital, mas disse que, ao sair, voltaria para a manifestação. Pela contagem dos camelôs, há 35 pessoas em greve de fome participando do protesto -só que muitas delas não estão acorrentadas, pois fazem parte da equipe de apoio, que traz água e ajuda a atender quem desmaia. Ontem, vários manifestantes passaram mal e foram atendidos pelas ambulâncias cedidas pela prefeitura. Todos os casos eram de princípio de desidratação. Quatro pessoas foram levadas para o Hospital do Servidor Público Municipal. No final da tarde, três haviam sido liberadas. Maria José de Lourdes, 66, é a manifestante mais velha entre os camelôs do Brás. Baiana de Serrinha, ela conta que está aguentando "na marra". "De vez em quando dá um peripaque, mas tomo soro e um comprimido para dor de cabeça e melhoro rapidinho. Estou me sacrificando para dar chance de estudo a meus 23 netos", diz Maria José, que vendia roupas há 18 anos. A prefeitura manteve ontem sua posição de recusar a proposta dos camelôs -que prevê a ocupação ordenada (a cada dez metros) das calçadas do Brás. O secretário municipal das Administrações Regionais, Domingos Dissei, confirmou reunião, para a manhã de segunda-feira, com representantes dos camelôs para discutir soluções alternativas para o comércio ambulante na região central da cidade. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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