UOL


São Paulo, domingo, 06 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRANSPORTE

Polícia quer que Capuano explique "quebra" de viações; ele vive em fazenda a 670 km de SP; SPTrans pede bloqueio de bens

Empresário procurado se refugia em Minas

ALENCAR IZIDORO
ENVIADO ESPECIAL A PATROCÍNIO (MG)

Uma fazenda de difícil acesso localizada a 670 km de São Paulo, rodeada de plantação de soja e criação de gado, com duas casas recém-construídas, lancha na garagem, à beira de uma represa.
É lá que se refugia Leonardo Lassi Capuano, empresário de ônibus que a polícia tenta localizar há quase dois meses para explicar a "quebra" de suas quatro viações, em São Paulo e Campinas, no segundo semestre de 2002, e a "venda" de ao menos duas delas para "laranjas" -incluindo um eletricista que já havia morrido antes da transação.
No dia 28 passado, a SPTrans (empresa municipal que cuida do transporte coletivo) entrou na Justiça para tentar bloquear os bens dele e de ex-sócios da viação Cidade Tiradentes, na qual a prefeitura injetou R$ 17 milhões nos últimos seis meses, principalmente para regularizar dívidas trabalhistas. O dinheiro foi retirado da conta do sistema, formada pela arrecadação de vales e passes.
Ele também é considerado uma peça-chave para esclarecer as acusações feitas pelo estelionatário Gelson Camargo dos Santos contra Luis Favre, marido da prefeita Marta Suplicy (PT). Santos declarou à polícia que Capuano teria dado uma "caixinha" de US$ 300 mil a Favre para manter um esquema de favorecimento às empresas de ônibus paulistanas.
Capuano, que foi até dois anos atrás braço direito da família Constantino, dona da companhia aérea Gol e da maior frota de ônibus do país, é investigado no inquérito policial 28/03 sob a acusação de estelionato, falsificação de documentos, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e crime contra a ordem tributária.
Ele vive hoje na rota Uberlândia-Patrocínio, a oeste de Minas Gerais, e mantém sob segredo até de amigos e parentes a localização da fazenda onde tem dormido. A Folha conseguiu achá-la, na última quarta-feira, após obter a indicação de um homem que prestou serviços para ele -e que pede para não ser identificado.
O empresário, porém, havia saído e, mesmo depois de pedidos feitos a familiares e ao advogado dele, não quis dar entrevista.
A nova propriedade dele fica a 45 km do centro de Patrocínio, cidade de 80 mil habitantes onde Capuano foi criado e onde seus parentes mantêm casas, posto de gasolina, agência de entregas e, há 63 anos, um jornal semanal.
O trajeto para localizá-la inclui a ida ao km 33 da estrada que leva a Perdizes. De lá, mais 9 km em uma via de terra. Por fim, é preciso entrar na propriedade de um fazendeiro conhecido por Coelho, abrir duas porteiras particulares (que, dependendo da hora, são trancadas com cadeados) e percorrer mais de 1 km ao redor de bois, vacas e plantações.
Marinéia, mulher do caseiro de Capuano, contou que as duas casas da fazenda terminaram de ser erguidas há dois meses. Enquanto fazia a obra, ele passou a acumular processos de cobrança de dívidas na Justiça de São Paulo - já são 13, sendo 12 que deram entrada de novembro para cá.
Ela afirmou ainda que Capuano costuma dormir lá durante toda a semana, enquanto a mulher dele, Valéria, e os dois filhos vão à propriedade somente aos sábados e domingos -já que vivem em Uberlândia, também em Minas, a 152 km de Patrocínio.
Embora durma na fazenda, Capuano vai com frequência ao centro do município onde passou a infância. É conhecido de políticos e de comerciantes. Na última segunda-feira, por exemplo, almoçou na casa do irmão, Luiz Carlos, que é gerente da Caixa Econômica Federal e dono de um sítio onde, nas noites de terça-feira, os amigos da família se reúnem para jogar futebol de campo.
Na terça e na quarta passada, a camionete Dakota vermelha de Capuano, com placa DCW-4541, de São Bernardo do Campo (onde ele vivia até 2002), podia ser vista no posto de gasolina da família. Luiz Carlos dizia que ele havia saído com a Fiat Doblô da mulher.
Ao saber que a reportagem estivera na fazenda do irmão dele, Luiz Carlos explicou: "Eu não a conheço muito bem, não costumo ir lá." Luiz Carlos também afirmou que seu irmão desistiu dos negócios com ônibus.

Estratégia
O advogado Helio Nogués Moyano foi contatado por Capuano para ser seu defensor criminal, mas informou que deverá se manifestar somente após obter cópia do inquérito, na semana que vem.
Parentes de Capuano dizem a amigos em Patrocínio que ele é vítima de estelionatários que compraram suas viações de ônibus e que ele se refugiou "por ter medo de ser preso de forma injusta". A intenção dele é depor, mas após obter um habeas corpus, que evitaria qualquer tentativa de prisão.
O delegado Maurício Del Trono Grosche, responsável pelas investigações, não fornece informações do inquérito 28/03 sob a alegação de que ele está sob segredo de Justiça. A Folha apurou que a polícia considera haver provas suficientes contra Capuano e que deve pedir a prisão temporária dele.
A polícia já fez diligências em São Paulo, São Bernardo do Campo, Foz do Iguaçu e Minas Gerais, mas ainda não conseguiu encontrá-lo. O advogado Moyano diz que nenhuma intimação oficial chegou a Capuano, mas que, se a polícia quiser, pode deixar recados nos antigos endereços comerciais e residencial dele.


Texto Anterior: Religião: A cada 5 dias, 1 igreja é inaugurada
Próximo Texto: Capuano nega encontro com marido de Marta
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.