São Paulo, sábado, 06 de maio de 2000


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JUSTIÇA
Comerciante mudou depoimento e apontou 5 por morte de Silva; três dos acusados estão em liberdade
Careca acusa 5 por morte de adestrador

ALENCAR IZIDORO
da Reportagem Local

O comerciante Jorge da Conceição Soler, 19, acusou ontem cinco rapazes pela agressão que resultou na morte do adestrador de cães Edson Neris da Silva, 35, no dia 6 de fevereiro, na praça da República (centro de São Paulo).
Soler, que antes havia negado o crime, disse ao juiz José Ruy Borges Pereira, presidente do 1º Tribunal do Júri, que havia cerca de 30 pessoas com o grupo, incluindo ele, mas que os demais só ficaram olhando o espancamento. O juiz concedeu a ele o direito à prisão domiciliar.
Entre os que teriam agredido o adestrador com socos e pontapés estão Juliano Filipini Sabino, 28, e Henrique Velasco, 22, presos em flagrante no dia do crime, com outras 16 pessoas.
Até ontem de manhã, todas estavam presas na carceragem do 15º DP sob a mesma acusação -homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, impossibilidade de defesa da vítima e uso de meio cruel), tentativa de homicídio (contra o operador de telemarketing Dario Pereira Netto, que conseguiu escapar) e formação de quadrilha.
Segundo Soler, outros dois rapazes que participaram da agressão (que ele identificou como Igor, menor de idade, e Rodrigo), foram levados para a delegacia, mas liberados pelo titular da 1ª Seccional, Jorge Carrasco.
Um terceiro, conhecido como Cristiano, não teria sido preso no bar da Bela Vista onde a polícia flagrou o grupo.
Pelo menos 11, de acordo com ele, são integrantes da gangue Carecas do ABC, conhecida por pregar contra minorias.
Questionado pelo juiz sobre o motivo da agressão, Soler respondeu: "porque eles (Dario e Edson) estavam de mãos dadas. Eles (Carecas do ABC) não aceitam os homossexuais."
Soler admitiu integrar o grupo e disse que, dos quatro agressores, apenas Velasco não era membro.
Dos 18 que estão presos, segundo ele, 8 eram Carecas do ABC. Os demais teriam se unido à gangue no dia do crime porque conheciam outros integrantes.

Discussões
Em interrogatório anterior, Soler havia negado o crime. Ele disse que resolveu contar a verdade porque seus companheiros estariam brigando na carceragem do 15º DP. "Estava havendo discussões entre nós mesmos."
O depoimento de Soler também desmente o de todos os outros 17 presos, que, além de negar participação no crime, diziam não ter passado pela praça da República.
Por ter confessado, Soler poderá ser beneficiado com a redução de até dois terços da pena.
O juiz José Ruy Borges Pereira também acatou pedido do promotor Marcelo Milani de manter Soler em prisão domiciliar.
"Não há estabelecimento carcerário capaz de garantir a segurança do rapaz", justificou Pereira.
Ele também concedeu o pedido de liberdade provisória ao acusado Onilmar Rocha de Queiroz, 20. Segundo Pereira, dos 18 acusados, Onilmar foi o único que não foi citado pelas testemunhas por participação no crime.
Os outros 16 acusados tiveram seus pedidos de liberdade provisória negados.
Segundo o promotor Marcelo Milani, a partir de agora haverá uma investigação paralela para encontrar os três rapazes citados por Soler que não estão presos.
O delegado Jorge Carrasco também será questionado sobre a soltura de dois deles no dia do crime. "Será verificado se houve prevaricação", disse Milani.
A Folha tentou localizar Carrasco ontem à tarde, mas foi informada de que ele está de férias.


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