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RIO
Pesquisa mostra que índices de desemprego e instrução são piores entre as mulheres que engravidaram na adolescência
Gravidez precoce diminui qualidade de vida
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO
Mulheres que tiveram filhos na
adolescência tendem a ter pior
qualidade de vida no futuro do
que as que não engravidaram antes de completar 20 anos. É o que
revela uma pesquisa realizada pela Fiocruz (Fundação Oswaldo
Cruz) com mães residentes no
Rio de Janeiro.
O levantamento foi feito entre
julho de 1999 e fevereiro deste ano
com 10 mil mulheres -de 10 a 35
anos- em maternidades públicas, conveniadas com o SUS e
particulares da capital.
Posteriormente, o estudo foi dividido em duas partes: análise das
adolescentes grávidas (de 10 a 19
anos) e comparação da situação
das mães de 20 a 34 anos.
Segundo a pesquisa, os índices
de desemprego, instrução e qualidade de moradia são piores entre
as mulheres que engravidaram
quando adolescentes.
"A gravidez nas classes mais
baixas é complicada pela falta de
estrutura e pela situação socioeconômica dessas pessoas. Quando a gestação ocorre na adolescência, o problema se agrava. À situação de pobreza, se soma a falta
de estrutura emocional da jovem
grávida, que muitas vezes não tem
o apoio do pai da criança e da própria família", explica a autora da
pesquisa, Silvana Granado.
Ela diz ainda que a gravidez na
adolescência é mais comum nas
áreas mais pobres da cidade. "A
falta de instrução, o fato de muitas
meninas não estarem na escola e
mesmo a falta de perspectiva de
uma vida melhor contribuem para esse aumento."
Estudos
Os dados mostram que 32,5%
das mães que engravidaram na
adolescência estudaram, no máximo, até a quarta série do ensino
fundamental, e que 70,9% estão
desempregadas. Entre as que não
tiveram filhos antes dos 20 anos,
os números são melhores: apenas
18,8% estudaram só até a quarta
série e 60,1% não têm emprego.
O desemprego também é maior
entre os pais dos bebês das mulheres que engravidaram na adolescência: 17,2%, contra 13,9% dos
homens do outro estrato.
O estudo diz ainda que 30,6%
das mulheres do primeiro grupo
moram em favelas ou nas ruas -
22,5% das outras entrevistadas estão nessa situação. Entre as que
engravidaram na adolescência,
18,3% não vivem com o pai do bebê, o que ocorre com 16,2% das
mulheres que tiveram filhos depois dos 20 anos.
A pesquisa revela que, de 1980 a
1995, aumentou a incidência de
adolescentes grávidas, principalmente na faixa etária dos 10 a 14
anos. "O aumento nessa faixa é de
7,1%. Isso é aterrorizante e já virou uma questão de saúde pública", diz Silvana Granado.
Entre meninas de 15 a 19 anos, o
aumento, nesse período, foi de
1,9%. A partir dos 20 anos, o índice diminui gradativamente.
Dentre as adolescentes entrevistadas, apenas 36% disseram que
desejavam ter engravidado. O
principal motivo alegado por elas
é o status que o filho traria.
"Elas nos contaram que grávidas são mais respeitadas na comunidade. Muitas também alegaram que engravidaram para sair
de casa, achando que isso faria
com que elas melhorassem de vida", disse a pesquisadora.
Para Granado, outro índice
preocupante é o de uso de contraceptivo: só 25% das entrevistadas
disseram utilizar algum método
para não engravidar - 26% delas
já tinham, pelo menos, um filho.
"A falta de apoio do namorado é
comum. Muitos não assumem a
criança e 60% deles abandonam a
menina antes de o bebê completar
1 ano", completa.
O abandono dos estudos também é uma consequência grave
para essas adolescentes: 54% delas deixaram de frequentar a escola por causa da gravidez.
"Isso acaba virando uma situação sem volta. A maioria larga os
estudos. Grande parte delas não
os retoma posteriormente, principalmente porque têm mais filhos.
Daí em diante, tudo fica mais difícil, arrumar um bom emprego e
cuidar dos filhos sozinhas. É o ciclo da pobreza", conclui Silvana
Granado.
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