São Paulo, domingo, 06 de maio de 2001

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RIO
Pesquisa mostra que índices de desemprego e instrução são piores entre as mulheres que engravidaram na adolescência
Gravidez precoce diminui qualidade de vida

SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

Mulheres que tiveram filhos na adolescência tendem a ter pior qualidade de vida no futuro do que as que não engravidaram antes de completar 20 anos. É o que revela uma pesquisa realizada pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) com mães residentes no Rio de Janeiro.
O levantamento foi feito entre julho de 1999 e fevereiro deste ano com 10 mil mulheres -de 10 a 35 anos- em maternidades públicas, conveniadas com o SUS e particulares da capital.
Posteriormente, o estudo foi dividido em duas partes: análise das adolescentes grávidas (de 10 a 19 anos) e comparação da situação das mães de 20 a 34 anos.
Segundo a pesquisa, os índices de desemprego, instrução e qualidade de moradia são piores entre as mulheres que engravidaram quando adolescentes.
"A gravidez nas classes mais baixas é complicada pela falta de estrutura e pela situação socioeconômica dessas pessoas. Quando a gestação ocorre na adolescência, o problema se agrava. À situação de pobreza, se soma a falta de estrutura emocional da jovem grávida, que muitas vezes não tem o apoio do pai da criança e da própria família", explica a autora da pesquisa, Silvana Granado.
Ela diz ainda que a gravidez na adolescência é mais comum nas áreas mais pobres da cidade. "A falta de instrução, o fato de muitas meninas não estarem na escola e mesmo a falta de perspectiva de uma vida melhor contribuem para esse aumento."

Estudos
Os dados mostram que 32,5% das mães que engravidaram na adolescência estudaram, no máximo, até a quarta série do ensino fundamental, e que 70,9% estão desempregadas. Entre as que não tiveram filhos antes dos 20 anos, os números são melhores: apenas 18,8% estudaram só até a quarta série e 60,1% não têm emprego.
O desemprego também é maior entre os pais dos bebês das mulheres que engravidaram na adolescência: 17,2%, contra 13,9% dos homens do outro estrato.
O estudo diz ainda que 30,6% das mulheres do primeiro grupo moram em favelas ou nas ruas - 22,5% das outras entrevistadas estão nessa situação. Entre as que engravidaram na adolescência, 18,3% não vivem com o pai do bebê, o que ocorre com 16,2% das mulheres que tiveram filhos depois dos 20 anos.
A pesquisa revela que, de 1980 a 1995, aumentou a incidência de adolescentes grávidas, principalmente na faixa etária dos 10 a 14 anos. "O aumento nessa faixa é de 7,1%. Isso é aterrorizante e já virou uma questão de saúde pública", diz Silvana Granado.
Entre meninas de 15 a 19 anos, o aumento, nesse período, foi de 1,9%. A partir dos 20 anos, o índice diminui gradativamente.
Dentre as adolescentes entrevistadas, apenas 36% disseram que desejavam ter engravidado. O principal motivo alegado por elas é o status que o filho traria.
"Elas nos contaram que grávidas são mais respeitadas na comunidade. Muitas também alegaram que engravidaram para sair de casa, achando que isso faria com que elas melhorassem de vida", disse a pesquisadora.
Para Granado, outro índice preocupante é o de uso de contraceptivo: só 25% das entrevistadas disseram utilizar algum método para não engravidar - 26% delas já tinham, pelo menos, um filho.
"A falta de apoio do namorado é comum. Muitos não assumem a criança e 60% deles abandonam a menina antes de o bebê completar 1 ano", completa.
O abandono dos estudos também é uma consequência grave para essas adolescentes: 54% delas deixaram de frequentar a escola por causa da gravidez.
"Isso acaba virando uma situação sem volta. A maioria larga os estudos. Grande parte delas não os retoma posteriormente, principalmente porque têm mais filhos. Daí em diante, tudo fica mais difícil, arrumar um bom emprego e cuidar dos filhos sozinhas. É o ciclo da pobreza", conclui Silvana Granado.


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