São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2004

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SEGURANÇA

Segundo chefe de Comunicação da Arma, cooperação com a polícia de Garotinho será nas tarefas de inteligência

Exército diz que não subirá o morro no Rio

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Exército não participará de operações ofensivas -o popular "subir no morro"- para trocar tiros com bandidos, no Rio de Janeiro. Irá concentrar-se em ações de inteligência, apoio à polícia, cerco e eventual ocupação e varredura das favelas após conflitos.
A afirmação é do chefe do Centro de Comunicação Social do Exército, general Augusto Heleno Ribeiro Pereira. Para ele, "não há solução militar" para o crime organizado no Rio, mas "o Exército fará sua parte" na tentativa de minimizar o problema.
A declaração de Pereira dá contornos técnicos ao discurso do governo federal, que tenta dar uma resposta política à questão da segurança pública no Rio por considerar que o ônus de imagens como a de um corpo em carrinho de mão acaba recaindo sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda que, constitucionalmente, o assunto seja estadual.
Ou seja, os militares podem até subir o morro, mas não querem fazer isso atirando -esse será trabalho da polícia. De todo modo, o formato final da operação será apresentado na semana que vem, e prevê a ação imediata.
Em nota divulgada ontem, o Ministério da Defesa afirma que, "eventual e episodicamente", poderão ser realizadas ações conjuntas com as polícias "em regiões previamente delimitadas, com o objetivo de resgatar armamentos das quadrilhas organizadas que atuam na cidade".
O Exército sempre se opôs a essas ações, mas a escalada da violência levou à percepção política de que é necessário fazer algo. Se os militares vão cuidar da força de paz da ONU no Haiti, que coincidentemente deverá ser coordenada pelo mesmo general Heleno, por que não fazer nada no Rio?
De qualquer forma, os militares querem limitar seus riscos. Heleno argumenta baseado na experiência da Operação Rio, em 1994, quando o Exército ocupou favelas. ""Não é conveniente subir morro. A operação urbana para a qual somos treinados é de guerra, na qual você pode fazer qualquer coisa com o inimigo, jogar uma granada na casa e entrar atirando. Não é o caso no Rio."
Segundo Heleno, o Exército terá o chamado controle operacional da ação, mas isso não significa que fará o trabalho da polícia. "Quem vai subir o morro é a polícia, porque eles conhecem a situação", diz. O Rio tem cerca de 40 mil policiais. O Exército prevê que serão utilizados os cerca de 4.000 soldados que haviam sido pedidos pela governadora Rosinha Matheus (PMDB).
Serão todos baseados no Rio, e, segundo Heleno, não haverá participação de batalhões de outros Estados, como chegou a ser especulado. A Brigada de Operações Especiais do Rio deverá colaborar com a maior parte dos soldados.
O general vê um fantasma pairando sobre todo o planejamento: o das conseqüências jurídicas, já que o Exército só pode exercer funções de polícia em casos de exceção, como estados de sítio ou quando um governador diz ter esgotado seus recursos.
Nos meios militares, há a preocupação com a possibilidade de, eventualmente, soldados matarem inocentes na ação -como na ocasião em que um professor foi morto num bloqueio quando o Exército foi às ruas no Rio.


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