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SAÚDE
Porta-voz do Departamento de Estado diz que a prática espalha a doença e defende a não-liberação de verba para ONGs do país
Governo Bush culpa prostituição pela Aids
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
O porta-voz do Departamento
de Estado dos EUA, Richard Boucher, disse que a prostituição é
causa da expansão da epidemia
de Aids ao comentar a decisão do
Brasil de rejeitar o veto do governo Bush ao financiamento de
ONGs brasileiras que defendem
trabalhadores do sexo.
Ele também destacou que seu
país tem impedimentos legais para ajudar as ONGs nessas condições. "Apenas queremos saber
que elas [as ONGs] estão tão comprometidas quanto nós em combater a Aids e também em combater a prostituição e o tráfico sexual, que têm feito parte da expansão da Aids", disse Boucher
anteontem em encontro com jornalistas em Washington para falar de temas internacionais.
A declaração, divulgada ontem
pela embaixada dos EUA no Brasil, gerou uma forte reação do governo brasileiro. Para Pedro Chequer, coordenador nacional de
DSTs e Aids do Ministério da Saúde, Boucher retomou um argumento ultrapassado, de que a
Aids é um problema de grupos de
risco -entendimento que existia
no início da epidemia, há mais de
20 anos, e que foi superado pelas
evidências científicas de que comportamentos de risco, como sexo
sem camisinha, é que são responsáveis pela expansão da doença. A
Aids cresce entre mulheres casadas por seus maridos não usarem
camisinha em outras relações.
"Você pode ter uma prostituta
com risco quase zero e pode ter
pessoas lá da igreja do Bush com
risco altíssimo. Depende da prática. A questão é outra, lógico que é
a questão do uso do preservativo", reagiu Chequer.
O governo brasileiro acusou os
EUA de tentarem interferir na política nacional de Aids, ao vetar o
financiamento a ONGs que defendam os trabalhadores sexuais
e, com o aval de movimentos sociais, anunciou na semana passada o rompimento de acordo que
previa um repasse de US$ 22,5
milhões (cerca de R$ 56,2 milhões) até 2008 para as ONGs.
As declarações de Pedro Chequer têm repercutido na imprensa norte-americana, que afirma
que o Brasil é o primeiro a enfrentar a política do governo George
W. Bush para as questões sexuais,
a chamada política "ABC", que
prega a abstinência em primeiro
lugar, fidelidade (o B é da expressão em inglês "be faithful) e camisinha só em último caso. A embaixada dos EUA informou que a decisão do Brasil ainda é discutida
pelo governo norte-americano.
Impedimento legal
O porta-voz do Departamento
de Estado destacou que, pelos termos da lei de 2003 de Liderança
Contra a Aids, a Tuberculose e a
Malária dos EUA, o país tem a
obrigação legal de assegurar que
nenhum financiamento seja fornecido a organizações que não
possuam uma política explícita de
oposição à prostituição e ao tráfico sexual. O Brasil é contra o tráfico de seres humanos para o sexo.
Boucher disse por fim que os
EUA não interferiram na maneira
como as ONGs brasileiras poderiam combater a prostituição.
"Não ditamos a maneira como
elas terão que implementar esse
compromisso ou essa política.
Não especificamos como elas terão que expressá-la em ação."
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