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DEPOIMENTO MAURO OTÁVIO NACIF
Mulher apaixonada é capaz de qualquer coisa, até de matar
Para advogado de Suzane von Richthofen, crime foi movido por uma paixão cega
Julgamento estava armado para "fritar" sua cliente, diz ele, que acusa promotor do caso de buscar holofotes
e manchetes nos jornais
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Figura central no adiamento
do júri, o advogado Mauro Otávio Nacif, 61, defendeu a tese de
que sua cliente, Suzane von
Richthofen, uma mulher que
ele define como "linda, loira e
milionária", foi coagida pelo ex-namorado -um "cafajeste"- a
participar do crime. Leia a seguir a tese dele.
Estava tudo montado para "fritar" a moça. Eu tinha de defender a minha cliente. Mas todo
mundo queria julgar a moça.
Porque é linda, loira, milionária
-"vamos pegar a moça".
"O julgamento vai sair hoje",
disse o juiz. Não pode. Eu não
posso, com 61 anos, a minha filha ao meu lado. A minha filha
vai pensar o que de mim? Que
eu sou um bunda-mole? Um
verdadeiro bunda-mole? Um
bundão? Eu falei: "Excelência,
vamos adiar, porque a lei manda adiar". "Vai ser hoje", ele disse. Eu falei: "Doutor, não vai ser
hoje". Foi hoje? Não foi.
No dia 17 de julho, farei o júri
da Suzane e vou absolvê-la. O
promotor, é claro, quer a moça.
Loira, bonita, milionária dá
ibope, manchete. Se ela fosse
pobre, desdentada, a imprensa
não estaria aqui. Nem eu estaria aqui. Nem eu. Ninguém liga
para os irmãos. Ninguém quer
saber deles. Quer saber da loira,
linda e milionária. Brasileiro
gosta de mulher bonita.
Pááááá na cara dela
O doutor [Roberto] Tardelli
diz que a Suzane participou da
morte dos pais por dinheiro.
Não é verdade. Essa moça é milionária. O pai dava tudo para
ela. Isso aconteceu porque o cafajeste [Daniel Cravinhos] não
queria perder as mordomias. O
pai da Suzane, pela primeira
vez, tinha dado um tapão na cara dela -pááááá, assim: "Agora,
vai acabar esse namoro". Porque o cafajeste pegava dinheiro
da família da Suzane.
A Suzane pagou prestação do
carro dos irmãos cafajestes,
som do carro, reforma da casa
deles, carpete, aquário, peixes
ornamentais, televisão, DVD,
óculos, viagens, roupas, maconha. Cobriu o cheque especial.
O pai da Suzane tinha sido seqüestrado -isso é outro dado-
mais ou menos uns oito meses
antes de ela conhecer o Daniel.
Com medo de outro seqüestro,
ele andava sempre com a carteira cheia de dinheiro -R$
5.000, R$ 7.000. Era dinheiro
para, numa eventualidade, dar
para seqüestradores. Então, a
Suzane ia lá e pegava quanto
queria. O pai dela era um superpai. Dinheiro não faltava.
Quer outro exemplo de mordomia? A Suzane ia viajar com
os pais para o Rio Grande do
Norte. Toda a família ficava em
um hotel cinco estrelas. O Daniel ia de avião e ficava hospedado em um outro hotel cinco
estrelas. Tudo pago por ela.
Bifurcação
Quando o Daniel viu que a
coisa tinha engrossado, ele fazia assim com os dedos [mostra
o indicador separado do dedo
do meio] para a menina. E dizia: "Agora, Suzane, é a bifurcação. Ou eles ou eu". Se os pais
de Suzane não morressem, eles
[Cravinhos] perderiam a galinha dos ovos de ouro. Por mais
cínico que pareça, era assim
que eles a chamavam.
A Suzane estava coagida pelo
explorador que a viciou em ecstasy e maconha. Essa moça é
supercorreta, educada, bonita,
fina, poliglota, viajada.
Seu azar foi ter-se envolvido
com um cafajeste. Ela foi escravizada psíquica e sexualmente
-lembre-se que ela antes era
supervirgem, nunca tinha beijado um homem na boca. De
língua então... Nem sabia o que
era a sensação sexual. A primeira providência do cafajeste foi
levar a menina para a cama. Ele
tirou a virgindade dela com 15
anos. Mas, como não gostava de
fazer amor usando camisinha
(segundo ele, era mais gostoso
sem), obrigava-a a tomar essa
tal injeção [anticoncepcional]
chamada Mesygina, que a fazia
desmaiar a cada vez...
O Andreas [Richthofen] está
contra a irmã. Mas foi o cafajeste que induziu o Andreas ao uso
de tóxicos. O cafajeste comprava tóxico com o dinheiro da irmã e dava para o menor. Está
nos autos que o Andreas era
maconheiro na época do crime.
Mulheres apaixonadas
Falam que, depois de presa,
ela ainda mandava cartas de
amor para o cafajeste. É muito
fácil de explicar isso. Demorou
três meses para ela se dar conta
de quem o Daniel era. Nos primeiros meses, ainda estava envolvida por ele. Ainda mandava
carta, chamando-o de "meu
amor". Mulher apaixonada.
Mulher apaixonada faz qualquer negócio. Homem apaixonado chega até o grau nove de
obsessão e de loucura. Mulher
apaixonada chega ao grau 10.
Essa moça era virgem até o
Daniel. Ele, um homem grosseirão, unhas sujas, não era um
rapaz de nível. Qual era o atrativo dele? Mulher é assim. Mulher conhece um mecânico,
com unhas de graxa, feio, com
uma cicatriz aqui... Mulher,
quando gosta de um homem,
ele vira Brad Pitt. "Ai, que unha
linda ele tem, toda cheia de graxa..." Mulher, quando gosta de
um homem, ainda mais do homem que lhe tira a virgindade...
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